O programa 'Você Ainda Vai Votar Nelas' seleciona mulheres entre 18 e 24 anos que desejam se tornar vereadores; especialistas, representantes políticas e futuras candidatas comentam a falta de mulheres jovens como representantes políticas.

Por Aline Freitas * — São Paulo

G1

Mulher vota na urna eleitoral em cabina de votação — Foto: Roberto Jayme/Ascom/TSE

 

O número de eleitores jovens é o maior da história do país, segundo dados do TSE. Mais de 2 milhões de brasileiros de 16 e 17 anos, que não são obrigados a votar, tiraram o título de eleitor e foram às urnas em 2022. Mais do que o dobro do número da eleição de 2020.

Porém, essa realidade não é repassada para os candidatos escolhidos nas eleições. Na Câmara dos Deputados, apenas 25 de 513 assentos são ocupados por jovens de 21 a 30 anos. As mulheres são ainda menos representadas, com 5 deputadas.

Diante dessa preocupação, a instituição “Girl UP” lançou o projeto “Você Ainda Vai Votar Nelas”, uma iniciativa que pretende impulsionar a candidatura de dez mulheres de 18 a 24 anos ao cargo de vereadora.

Por oito meses, as selecionadas terão acesso a um programa de formação política, apoio na campanha, auxílio no desenvolvimento de habilidades socioemocionais e apoio psicológico durante e após as eleições.

O programa aceita candidaturas de todo o Brasil. Segundo Daniela Costa, gerente de redes e advocacy da Girl Up, não é necessário ter filiação a algum partido político para entrar no concurso.

“A gente olha muito para o perfil democrático da candidata. Tem que ser alguém que defende os direitos humanos e a democracia”, explica Costa.

Além disso, durante a seleção, fatores como classe social e etnia serão levados em consideração, apesar de não terem cotas determinadas.

As inscrições para o programa vão até o dia 23 de fevereiro e podem ser feitas pelo site.

Por que temos poucas mulheres jovens em cargos públicos?

Uma pesquisa da Plan International que ouviu 1000 meninas de 15 a 24 anos de diferentes regiões brasileiras mostrou que 70% das entrevistas acreditam que os políticos do país não conhecem e não entendem as opiniões de meninas e jovens mulheres. Cerca de 48% também acredita que os que assumem os cargos públicos não representam as comunidades que atendem.

Para a professora da PUC-SP e Doutora em Ciência Política, Rosemary Segurado, o problema de representação escassa não é uma exclusividade das mulheres jovens. “Essa questão faz parte de uma lógica maior que é a falta de mulheres na política do brasil. E isso não por falta de interesse delas”, explica.

Segundo Segurado, os fatores que as impedem vão muito além da falta de vontade. “Muitas são mães solo, muitas saem de casa muito cedo para trabalhar e as mais jovens ainda estudam em outra parte do dia”, conta.

Já Joyce Luz, professora da FESPSP e pós doutoranda em Ciência Política pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), acredita que o problema é o descrédito que políticos homens atribuem a mulheres jovens que querem seguir carreira.

“Na política, quando a mulher é cogitada para algum cargo público são considerados apenas o capital político que ela carrega e a rede de contato que ela tem”, explica. “Isso para jovens candidatas dificulta porque são mulheres novas que estão iniciado a carreira e que ainda não tem esse capital que, infelizmente, é necessário”.

Como solucionar isso?

Luz acredita num maior apoio à candidatura de mulheres jovens como uma forma de resolução. “A eleição dessas mulheres tem a ver com gerenciamento de campanha e para as mais jovens, sem uma rede de apoio, isso é complicado”, diz.

“Parte da responsabilidade civil é procurar mais essas jovens, ajudar na divulgação das campanhas, ajudar a elaborar um programa de governo”, complementa.

Segurado, da PUC-SP, também responsabiliza os partidos políticos. “Eles precisam aplicar as cotas de gênero de maneira que aconteça o cumprimento efetivo dessas regras”.

Além disso, para ela, as iniciativas como o “Você Ainda Vai Votar Nelas” são essenciais para a visibilidade dessas candidatas. “No fundo, isso tem a ver com fazer chegar a nossa voz em diferentes níveis e instâncias de representação”, afirma.

As que estão no poder

Luana Alves foi a mais nova vereadora eleita pela cidade de São Paulo, em 2020, quando tinha 23 anos. Para ela, a ideia de se tornar uma representante política veio por meio dos pais que já eram militantes e se potencializou na universidade.

“Sempre me entendi como um ser político, apesar de não pensar em cargos”, conta. “Me formei muito, me filiei em 2014 e a ideia de candidatura veio de forma natural”.

Vereadora Luana Alves — Foto: Reprodução/Instagram

Para ela, a representação de mulheres jovens no poder legislativo é essencial e deve ser feita da maneira certa, apesar de, atualmente, o contrário acontecer. “As pautas abordadas têm sido menos sobre a defesa das nossas vidas mais sobre o controle dos nossos corpos”, conta.

Nos últimos tempos na câmara, Alves relata ter enfrentado projetos que proibiam a liberdade sexual das mulheres e seus direitos a contraceptivos.

Beatriz Caminha – vereadora de Belém (PA) -, assim como Alves, revela ter sido incentivada para a luta política pela vivência da universidade. Para ela, a representação política vai muito além do fato de ser mulher.

“É fundamental que a gente se veja representada nesses espaços”, diz. “E, dificilmente têm pessoas defendendo interesses de mulheres mais jovens, negras e LGBTQIAP+”.

Beatriz Caminha, vereadora de Belém — Foto: Reprodução/Instagram

 

As duas apontam fatores que acreditam resultar em uma maior presença feminina em cargos públicos.

“A gente precisa de um plano nacional para enfrentar a violência política contra as minorias sociais”, afirma. “Também é necessário pensar em cotas para jovens dentro das chapas dos partidos”.

Quem quer chegar lá

A estudante Jady Veríssimo, de 22 anos, pretende se candidatar a vereadora de São Paulo. Ela conta que a sua ambição política vem da vontade de retribuir a sua comunidade, que fica na Zona Leste da capital.

Jady Veríssimo se inscreveu no programa "Você Ainda Vai Votar Nelas" da Girls Up — Foto: Acervo pessoal/Jady Veríssimo

 

“Eu fui aprovada na FGV, mas a mensalidade era mais do que o dobro da minha renda familiar mensal”, conta. Por isso, ela abriu uma vaquinha online e com a ajuda de cerca de 360 pessoas, arrecadou o suficiente para fazer a graduação em administração pública.

“Muito do meu desejo político de hoje vem de querer trabalhar para retribuir e colaborar com políticas públicas”, afirma.

Atualmente, Veríssimo toca um projeto chamado Pontes Para o Amanhã, que, segundo ela, conecta adolescentes a oportunidades de emprego e bolsas de estudo. “Muitos jovens não sabem o que é Enem, Sisu, Prouni e tudo bem, eu também não sabia”.

Jady com alunos do programa Pontes para o Amanhã — Foto: Divulgação/Jady Veríssimo

 

A jovem, que se forma esse ano, se inscreveu no programa da Girl UP e espera que a oportunidade a ajude a atingir seus objetivos políticos.

*Estagiária sob supervisão de Cíntia Acayaba

fonte: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/eleicoes/2024/noticia/2024/02/20/iniciativa-tenta-impulsionar-candidatura-de-mulheres-jovens-a-vereadoras.ghtml

 


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