A sua colação de grau, que ocorreu na última terça-feira (23), além de significar o encerramento de um ciclo importante em sua vida, simboliza que a universidade é um espaço para todos, independentemente, sobretudo, da idade de quem pretende ingressar.

 

“Algumas coisas na vida nós fazemos para provar algo, para os outros e para nós mesmos”. É nesta frase que está a inspiração de Maria Terezinha da Silva de Souza, de 69 anos, para retornar à sala de aula e se tornar graduada em Gestão Pública pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). A cerimônia de formatura aconteceu na última terça-feira (23), no Setor de Educação Profissional e Tecnológica (SEPT) da UFPR.

Dona Terezinha, como prefere ser chamada, nasceu em novembro de 1953, no município de Faxinal, no Norte do Paraná. Em 1984, mudou-se para Fazenda Rio Grande, cidade da Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Mãe de três filhos e avó de um neto, passou a vida trabalhando em frente à máquina de costura. Trabalhava cerca de 18 horas por dia. “Hoje não pego mais naquelas máquinas”, diz com um certo alívio.

Assim como muitas mulheres, dona Terezinha não tinha total liberdade para realizar os seus sonhos devido à figura do marido. “Eu tive autonomia depois que ele ficou doente. Foi quando fiz carteira de motorista, passei a estudar e cheguei aonde estou”, conta.

Em 2010, começou a cursar a sexta série. Durante uma aula, a professora pediu para que os alunos escrevessem quais eram seus sonhos. Maria Terezinha escreveu que a sua maior realização seria terminar o Ensino Fundamental, o Ensino Médio e prestar vestibular para a UFPR. Ao relatar as suas expectativas para o futuro, um aluno mais jovem comentou: “A senhora tem que ver que se prestar um vestibular pra Federal e, por azar passar, a senhora vai tirar a vez de outro”. O ataque preconceituoso por causa de sua idade só serviu como incentivo. “Aquilo me levantou. Fui em frente, eu consegui, estou aqui, e não tirei a vaga de ninguém”, afirma.


O etarismo não abateu a recém-formada. Foto: Acervo pessoal
 

O esposo faleceu em 2016, ano em que prestou o vestibular pela primeira vez. O resultado veio: não estava na lista dos aprovados. Pouco mais tarde, foi selecionada na chamada complementar, mas havia perdido o prazo de registro acadêmico. O que para muitos significaria uma frustração, para ela não era o fim. “Não me frustrei, não. Dava para tentar no próximo ano”, diz.

Em 2017, tentou novamente e a aprovação tão aguardada finalmente veio. “Fiz o vestibular da Federal novamente e passei, só que na primeira chamada. Mas eu não fui tomar banho de lama. Não fui. Eu li o resultado no computador. Não é que eu não quisesse ir, mas como é que eu ia embora de lá toda suja morando na Fazenda [Fazenda Rio Grande]?”, conta brincando.

Com a matrícula feita, começou uma nova etapa na vida de dona Terezinha. As aulas eram à noite, com início por volta das 19 horas. Ela começava a se arrumar lá pelas 16h para pegar o transporte público às 17h. Três ônibus depois, chegava ao SEPT. Apesar de percorrer, por dia, 50 quilômetros, a recém-formada estava sempre animada para as aulas. “Eu sempre sentei na primeira carteira, gostava de olhar bem nos olhos dos professores. Acho que, se estou olhando direto para a pessoa, gravo melhor do que se estiver ali, de cabeça baixa e escrevendo”, lembra.

Como toda graduação, há dificuldades. Para a agora gestora pública, apresentar trabalhos era uma delas: “Eu travava”, diz ela. Os colegas, assim como os professores e a sua família foram importantes aliados para que dona Terezinha trilhasse esse caminho. Durante a pandemia de Covid-19, essa rede de apoio foi fundamental. Com a vinda das aulas e das atividades on-line, a experiência como estudante se tornou difícil. “Eu sabia pesquisar e tudo o mais, mas digitar o texto e enviar, não. Não conseguia enviar via internet, mas eles [os professores] sabiam da minha dificuldade”, relata.

Em 2022, com o retorno das atividades presenciais, Maria Terezinha voltou ao SEPT para encerrar o curso. Agora, o que fica é a saudade: “Saudade de sair todo dia de casa às 17 horas. De tomar banho rápido, às 16 h, para poder sair. Eu ficava animada porque ia para a faculdade, ia estudar, ia ver gente diferente e pegar vários ônibus”, lembra.

Dona Terezinha tinha alguns lugares favoritos no campus. E antes das aulas ou durante os intervalos, ia para algum deles. O banco em frente à pista de atletismo, por exemplo, é um local do qual guarda várias lembranças. Lá, a artesã observava os aviões que passavam a caminho da aterrissagem. “Por volta das 18h30 eles começavam. Sobe e desce, sobe e desce. De noite, ali é um espetáculo”, conta. 


O banco em frente à pista – um lugar de memórias. Foto: Marcos Solivan
 

Em abril de 2023, Maria Terezinha voltou ao SEPT para essa entrevista e se emocionou. “Tenho vontade de andar por tudo”, comenta animada. Caminhando pelos corredores, conversando com funcionários, foi possível notar em seu olhar as memórias retornando. A nostalgia é inevitável. 

A sua colação de grau, que ocorreu na última terça-feira (23), além de significar o encerramento de um ciclo importante em sua vida, simboliza que a universidade é um espaço para todos, independentemente, sobretudo, da idade de quem pretende ingressar.


Fotos: Marcos Solivan e Acervo Pessoal
 

Por Thiago Fedacz, sob supervisão de Jéssica Tokarski

 

fonte: https://ufpr.br/aos-69-anos-dona-terezinha-se-forma-em-gestao-publica-pela-ufpr/


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