A história de quatro importantes mulheres que vivem ou viveram no Rio Grande do Sul será contada em forma de rádio-teatro no podcast “Bendita Sois Voz – Histórias que sopram do Sul”, iniciativa de dois coletivos femininos de artes cênicas de Porto Alegre, a Cia Circular e o Coletivo Das Flor. O projeto, idealizado por Júlia Ludwig e Luciane Panisson, irá traçar uma linha do tempo da vida de Maristoni Lima, fundadora do coletivo Ksa Rosa; Cacica Acuab, cacica geral do povo Charrua gaúcho; Dona Conceição dos Mil Sambas, compositora; e Ana Maria Primavesi, austríaca radicada no Estado e percursora da agroecologia.
A partir de depoimentos em áudio e vídeo e pesquisas, as artistas Bruna Espinosa, Dejeane Arruée, Maria Falkembach e Luciana Paz dão voz às outras quatro mulheres, interpretando suas histórias através da escrita poética das idealizadoras. A trilha sonora original é composta e dirigida por Maria Clara Coelho e editada e mixada por Daniela Pastore. “Nossa ideia é investir nessa questão do rádio-teatro documental, que tem um caráter até jornalístico, a gente entrevista três mulheres, uma é uma homenagem póstuma, fizemos um ensaio fotográfico com cada uma. Então além do episódio, a gente divulga também a entrevista na íntegra como um material histórico. Mas vai para o campo da poesia também”, explica a artista Júlia Ludwig.
Segundo as idealizadoras, 0 formato foi pensado em meio ao isolamento social durante a pandemia e se tornou uma alternativa para a produção artística sem o contato direto. Dois episódios já foram lançados em 2020 e 2021, de forma independente, como pilotos do projeto. O lançamento do podcast nas plataformas de streaming será no dia 22 de julho, com o episódio sobre a vida da Cacica Acuab. Dia 27 de julho é a vez de Maristoni Lima de Moura. Já em agosto, vão ao ar os episódios sobre Ana Maria Primavesi no dia 5 e, por fim, em 12 de agosto o de Conceição dos Mil Sambas. O resultado também será oferecido a emissoras de rádio. Cada episódio tem duração de 15 minutos.
O projeto foi contemplado pelo Fundo de Apoio à Cultura, aprovado no Edital SEDAC nº 16/2021 – Edital de Concurso FAC das Artes de Espetáculo e também ofereceu oficinas de dramaturgia. Em quatro edições, cada uma com três horas de duração, a oficina usou a metodologia da criação dos roteiros do seu programa para instigar os participantes a criarem sua própria dramaturgia, fazendo pontes entre suas biografias e outras personalidades.
As idealizadoras encontraram e selecionaram as histórias contadas através de pesquisas na imprensa e conversas a partir dos episódios pilotos. “O piloto conta a história da Marli Medeiros, que foi uma líder comunitária e que tem uma história muito transformadora. A gente chegou nela pesquisando para outros projetos e a história dela nos encantou. A partir dela chegamos na Maristoni, que trabalha também na questão da reciclagem”, relata Ludwig.
Marli Medeiros foi uma liderança da Vila Pinto, na zona leste da Capital, onde atuou na criação de iniciativas voltadas para a população local, como o Clube de Mulheres e um Centro de Triagem que se tornou referência em Porto Alegre. Ela faleceu em 2018, aos 65 anos, após lutar contra um câncer.
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A fundadora do coletivo Ksa Rosa, Maristoni Lima de Moura passou quase 17 dos seus 50 anos lutando por melhores condições de vida para catadores de material reciclável em Porto Alegre. A Ksa Rosa fica na avenida Farrapos e é uma das ocupações da Capital que serve como centro de recicladores na região. É também um centro de acolhimento para ex-dependentes químicos, de venda de produtos produzidos artesanalmente e espaço cultural para a população do entorno.
Cacica Acuab é a primeira mulher cacica geral do povo Charrua do Rio Grande do Sul. Seus antepassados escaparam de Salsipuedes para São Borja, São Miguel das Missões, Santo Ângelo e Porto Alegre. Seu povo é reconhecido desde 2007 em Porto Alegre. Ela vive na Aldeia Polidoro, na Estrada São Caetano Parada 38, na Capital gaúcha.
Dona Conceição dos Mil Sambas é pelotense da Vila Castilhos, região periférica da cidade. Compositora autodidata, compôs mais de mil sambas, valsas, tangos, bossas e canções regionais gaúchas. Mãe comunitária, criou mais de cem filhos. No início dos anos 80, retirou-se um pouco da vida musical para se dedicar às crianças mas seguiu escrevendo músicas. Gravou seu primeiro CD e DVD em 2017, ao vivo.
Ana Maria Primavesi estudou agronomia em Viena, na Áustria, onde nasceu. Durante a Segunda Guerra Mundial, foi presa por tropas inglesas e mantida em um campo de prisioneiros. Se casou com Arthur Primavesi e se mudou para o Brasil, onde formou quatro gerações de profissionais das ciências agrárias. Fundou várias organizações voltadas à agricultura, como Associação de Agricultura Orgânica (AAO), em São Paulo. Após um período no Sudeste do Brasil, Ana e Arthur passaram a trabalhar na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e criaram o Instituto de Solos e Culturas. Primavesi é a única personagem já falecida, em janeiro de 2020, aos 99 anos.
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“O projeto procura valorizar não só essas mulheres como indivíduos, mas também procuramos trazer atenção para essas iniciativas comunitárias que elas representam, que precisam ser discutidos para a gente, de alguma forma, conseguir dar um suporte a elas”, relata a idealizadora.