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Dom Erwin Krautler2
 
  • "Por que não é permitido que as mulheres sejam ordenadas? Até hoje, não encontrei uma resposta que me convença. E sei que não há uma resposta realmente convincente".

  • É a pergunta feita - e a resposta dada - pelo bispo emérito da prelazia do Xingu, Dom Erwin Kräutler, em um folheto intitulado Roma locuta, ¿causa finita? Sobre a ordenação de mulheres na Amazônia, editado pelo Observatório Latino-Americano da Sinodalidade.

A reportagem é de José Lorenzo, publicada por Religión Digital, 03-04-2024.

"O fato de o Papa João Paulo II, em sua exortação apostólica Ordinatio Sacerdotalis, de 22 de maio de 1994, se referir à 'constituição divina da Igreja' para dizer que 'a Igreja (não tem) autoridade alguma para ordenar mulheres ao sacerdócio' e, além disso, declarar enfaticamente que 'todos os fiéis da Igreja devem acatar definitivamente esta decisão' (OS 4), me entristece", acrescenta o pastor.

Roma locuta, ¿causa finita? Livro de Dom Erwin Kräutler

"Como o Papa pôde afirmar, como se fosse de fide revelata, como vontade divina revelada para sempre, que nunca se permitiria conferir as Ordens Sagradas a uma mulher? A formulação utilizada por João Paulo II é quase como proclamar uma declaração de fé ex cathedra. Mas uma exortação apostólica não é uma proclamação de dogma. Portanto, deveria ser-me permitido questionar esta decisão papal", indica.

"A tese de que o sacerdote, por agir na pessoa de Cristo, deve ser um homem e que o 'ser-homem' é, portanto, um elemento sacramental indispensável, é difícil de entender e sustentar. Os evangelhos foram escritos em um espaço cultural patriarcal em que a mulher desempenhava um papel submisso ao homem e até mesmo era tratada como 'imatura'. Jesus viveu neste espaço cultural específico, mas rompeu repetidamente com a tradição. Basta pensar em seu encontro com a mulher samaritana (cf. Jo 4), que irritou até mesmo seus discípulos. Pensemos nas mulheres que o acompanharam desde o primeiro momento de sua vida pública (cf. Lc 8, 2-3)", sublinha.

Mas, acrescenta, "vivemos no século XXI e há muito tempo as mulheres são reconhecidas como iguais aos homens, têm os mesmos estudos e qualificações, e são líderes em muitos âmbitos sociais, econômicos e políticos".

O Papa João Paulo II - continua Kräutler - invoca seu ministério "para fortalecer os irmãos" (Lc 22, 32) e ao fazer isso tira de contexto esta palavra de Jesus. É o último encontro com os discípulos antes de o Senhor ser traído, preso e condenado à morte. Jesus se dirige aos seus amigos mais próximos, fala do que está prestes a acontecer e também diz com toda clareza: 'nesta noite todos vocês se escandalizarão' (Mt 26, 31). Neste contexto, Jesus se dirige a Simão Pedro: 'Simão, Simão, Satanás pediu para peneirar vocês como trigo; mas eu orei por você, para que sua fé não desfaleça. E você, quando voltar, fortaleça seus irmãos' (Lc 22, 31-32). Não é compreensível derivar precisamente desta palavra de Jesus a Pedro, diante da morte, a autoridade papal para proibir definitivamente a ordenação de mulheres ao sacerdócio".

Mas, "é uma questão irrevogável?", pergunta-se, para oferecer exemplos de outros papas que revogaram decisões tomadas por seus antecessores, entre eles. "Vez após vez, quando se trata de dizer não à ordenação de mulheres", destaca o prelado, que ainda lembra quando contou ao Papa Wojtyla a existência das comunidades eclesiais de base no Vaticano, "faz-se referência à exigida 'adequação da revelação'. Os defensores de uma ordenação exclusivamente masculina nem mesmo se privam de citar Paulo em 1 Coríntios: 'como é costume em todas as igrejas, as mulheres devem guardar silêncio nas assembleias; não lhes é permitido falar" (1 Cor 14, 33-34). Se este mandato ainda estivesse vigente hoje, qual seria o estado das igrejas na Amazônia e em outras regiões? O fato é que a primeira comunidade cristã em solo europeu se reuniu em torno de uma mulher: 'uma mulher chamada Lídia, comerciante de púrpura da cidade de Tiatira, estava ouvindo; era uma mulher piedosa, e o Senhor abriu-lhe o coração para que ouvisse atentamente as palavras de Paulo (Atos 16, 14)".

Sem provas

"Não há absolutamente nenhuma prova de que um homem sempre presidiu a Eucaristia na Igreja primitiva", aponta, para acrescentar que "nos textos bíblicos que falam da Eucaristia, apenas se menciona o mandamento geral do Senhor: 'fazei isto em memória de mim' (Lc 22, 19 e 1 Cor 11, 24), mas não se especifica com mais precisão quem - se homem ou mulher (Lídia? Priscila? Júnia?) - preside a celebração 'in persona Christi'".

"O fato de as mulheres não serem mencionadas na Última Ceia não pode ser citado como prova de que Jesus 'apenas' confiou aos homens a celebração sacramental da comemoração de sua morte e ressurreição. Se assim fosse, apenas os homens poderiam participar da celebração da Eucaristia", sustenta o bispo emérito.

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