Amanda Julieta teve carreira influenciada por coletivo poético de meninas negras

Publicado domingo, 18 de fevereiro de 2024 às 06:00 h | Autor: Gilson Jorge - A TARDE (Salvador-BA)
Escritora Amanda Julieta
Escritora Amanda Julieta - 
 
 

Em 25 de julho de 2017, a escritora e ativista Angela Davis fez uma palestra sobre feminismo no Salão Principal da Reitoria da Universidade Federal da Bahia (Ufba), no Canela, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha. 

 Uma das soteropolitanas que acudiram ao evento foi Amanda Julieta, então recém-formada em jornalismo. A jovem, na verdade, nasceu em São Paulo, mas é moradora de Salvador desde os cinco anos de idade.   

Amanda foi ouvir uma renomada intelectual estrangeira, mas acabou tendo a sua vida influenciada, definitivamente, por um coletivo poético de meninas negras da cidade que se apresentou antes da fala de Angela, o Slam das Minas BA. Um grupo de mulheres que promove batalhas de poesia. 

Dois anos depois dessa experiência, a jornalista iniciou no mestrado em literatura e cultura pela Ufba com uma pesquisa sobre a poesia e a performance de mulheres negras na literatura marginal. A dissertação virou o livro Tem poeta na casa? - Mulheres negras, poetry slam e insurgências, primeiro lançamento do ano do selo ParaLeLo 13S.  

"O projeto da dissertação foi bacana, mas também difícil, porque o slam na Bahia é algo relativamente novo”, afirma a pesquisadora.  A prática das batalhas poéticas surgiu nos Estados Unidos, na década de 1980. Mas o livro de Amanda não considera essa cena como marco definitivo dessa cultura e aponta semelhanças entre o slam e a poesia dub, praticada na Jamaica, na década anterior.  

O nome, slam, é um verbo da língua inglesa, que em tradução livre significa algo como um golpe rápido e forte, como o de uma porta batendo. O primeiro slam no Brasil aconteceu em São Paulo, em 2008, pelas mãos da poeta e pesquisadora Roberta Estrela D'Alva. "É um desafio estudar o que está acontecendo, o contemporâneo, mas é incrível também, acompanhar o crescimento e o desenvolvimento do movimento", assinala a pesquisadora.

Amanda, que continua estudando tema, agora como doutoranda, nota que se no início era uma poesia centrada em denúncias das mazelas sociais, agora as meninas baianas do slam falam também de amor. 

Fora dos muros

Filha de pai paulista e mãe baiana, Amanda cresceu na Bela Vista do Lobato e credita o seu interesse pelo slam à sua própria experiência como mulher negra e periférica. 

"Esses dias, eu estava dando uma aula sobre isso e, para falar sobre o meu percurso na pesquisa, disse que essa pesquisa começou fora dos muros da universidade. Talvez ela tenha começado quando eu era uma menina, subindo em encosta, pulando muro", explica. 

Amanda, 32 anos, não escreve poesia, mas juntamente com seu irmão, cinco anos mais velho, cresceu escutando Racionais MCs. "Eu acho que a pesquisa vem muito disso mesmo, dessa experiência de território, também". 

O livro registra performances de baianas do slam em locais do circuito alternativo de Salvador, como a Casa Preta, no Largo Dois de Julho, e a Casa Rosada, nos Barris, essa já desativada. Além das pioneiras soteropolitanas do Slam da Onça, referência ao bairro em que moravam, Sussuarana, que começaram as atividades em 2016, com o Sarau da Onça. 

No início da pesquisa, em 2019, Amanda detectou que o número de batalhas ativas de slam na Bahia vinha numa tendência decrescente, ao contrário do que ocorria no eixo Rio-São Paulo. 

As batalhas poéticas não estão isentas de regras. O livro de Amanda, por exemplo, registra o regulamento criado pelo Slam das Minas Bahia. Os concursos têm a fase inicial com todas as candidatas e uma semifinal com as três melhores. A terceira colocada sai da disputa e deixa a finalíssima para suas duas oponentes. 

Os poemas, autorais, precisam ter no máximo três minutos de duração.  A cada 10 segundos excedidos, a candidata perde meio ponto. 

Reconhecimento

Coordenadora do selo editorial paralelo13S, Sarah Rebecca Kersley destaca que acompanha o trabalho de Amanda Julieta há um tempo. "Chamou a nossa atenção essa pesquisa dela, e logo consideramos muito importante fazer o trabalho chegar ao público leitor fora da universidade, onde já vem ganhando o devido reconhecimento", diz Sarah. 

A coordenadora classifica a pesquisa de Amanda como um trabalho verdadeiramente pioneiro:  "De forma genial e cativante, o livro tece os pontos entre as origens da poesia slam, o seu desenvolvimento e trajetos por todo o Brasil, incluindo a Bahia, com o Slam das Minas BA tendo se destacado especialmente nos últimos anos como evento fundamental na vida literária daqui". 

Sarah afirma que além da sua abordagem meticulosa em questões de arte, política, raça e gênero, é um livro que ajuda a entender melhor a literatura e, logo, o próprio Brasil. 

"É um desses textos que passam de vez em quando na vida de uma editora pequena e nos dá a vontade de anunciá-lo bem alto, tal qual a chamada evocada no título maravilhoso que Amanda Julieta deu à obra, pois, é algo que sentimos que achamos que deve ser lido por todo o Brasil", considera a coordenadora. 

O selo ParaLeLo publicou também o primeiro livro de Amanda, Dandara, sobre a heroína negra.  A escritora participou ainda da coletânea Abrindo a boca, mostrando línguas, da mesma editora.

 

Artigos do CFEMEA

Coloque seu email em nossa lista

Cfemea Perfil Parlamentar

Informe sobre o monitoramento do Congresso Nacional maio-junho 2023

Cfemea Perfil Parlamentar

Violência contra as mulheres em dados

Logomarca NPNM

Direitos Sexuais e Reprodutivos

logo ulf4

Estudo: Elas que Lutam

CLIQUE PARA BAIXAR

ELAS QUE LUTAM - As mulheres e a sustentação da vida na pandemia é um estudo inicial
sobre as ações de solidariedade e cuidado lideradas pelas mulheres durante esta longa pandemia.

legalizar aborto

Veja o que foi publicado no Portal do Cfemea por data

nosso voto2

...