Quase lá: Brasil tem primeira mulher general de 3 estrelas na história das Forças Armadas

Primeira mulher a ser promovida a oficial-general de 3 estrelas na história das Forças Armadas, a médica Carla Lyrio Martins abre caminhos para outras aspirantes à carreira

Priscila Crispi
postado em 17/12/2023 06:00 / Correio Braziliense

 

 

Major-brigadeiro Carla em missão: "Trago uma alegria e um impulso ímpar para continuar na missão e para contribuir ainda mais com a FAB" -  (crédito: Sgt Johnson Barros/Força Aérea)
Major-brigadeiro Carla em missão: "Trago uma alegria e um impulso ímpar para continuar na missão e para contribuir ainda mais com a FAB" - (crédito: Sgt Johnson Barros/Força Aérea)

int(18)

As Forças Armadas brasileiras têm sua primeira mulher oficial-general de 3 estrelas da história. Carla Lyrio Martins foi promovida, em novembro, a major-brigadeiro, último posto da carreira para o quadro de médicos da instituição. Com a promoção, foi designada também diretora da Escola Superior de Defesa.

Essa não é a primeira vez que a médica rompe barreiras na corporação. Foi a primeira mulher promovida ao generalato, em 2020, e a primeira a comandar uma organização militar na Força Aérea Brasileira (FAB).

"Posso afirmar que todos os meus 33 anos de serviço foram determinantes para alcançar este momento. Foram os anos dedicados à operacionalidade, como médica de esquadrão aéreo, à assistência, como médica hematologista, e à gestão — já somo cinco importantes comandos — que me trouxeram até aqui. São experiências indissociáveis, pois vieram em um contínuo de aprendizado, que venho colocando em prática. Estou pronta para outros momentos, e trago uma alegria e um impulso ímpar para continuar na missão e para contribuir ainda mais com a Força Aérea Brasileira", comemora.

Carla ingressou na FAB em 1990. Desde então, atuou como médica em diferentes esquadrões de saúde, academias e bases aéreas, além de compor o corpo clínico de hospitais militares. Ela explica que a FAB dispõe de um plano de carreira bem delineado para os militares. Os postos vão sendo galgados paulatinamente pelas promoções. Os cargos de maior relevância são designados por mérito e há cursos de carreira de pós-formação oferecidos pela Força durante a trajetória profissional, dentro do planejamento institucional de capacitação continuada.

 

Major-brigadeiro Carla em missão: "Trago uma alegria e um impulso ímpar para continuar na missão e para contribuir ainda mais com a FAB"
Major-brigadeiro Carla em missão: "Trago uma alegria e um impulso ímpar para continuar na missão e para contribuir ainda mais com a FAB"(foto: Sgt Johnson Barros/Força Aérea)

 

Às resistências que encontrou, respondeu aproveitando cada uma das oportunidades de formação — é especialista em diversas áreas, como medicina aeroespacial, hematologia, hemoterapia, vigilância sanitária e epidemiológica, e gestão de serviços de saúde. "Destaco o Curso de Medicina Aeroespacial, o Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais, o Curso de Comando e Estado-Maior e o Curso de Política e Estratégia, além do MBA em Gestão Hospitalar, todos fazendo parte desse planejamento e que, definitivamente, contribuíram para me capacitar para exercer funções de maior responsabilidade", diz a oficial.

Com a ascensão na carreira e ocupação de cargos de comando e controle, passou a conviver com cada vez mais homens e menos mulheres. Ela conta que enfrentou diversos desafios no dia a dia por ser a única mulher nessas posições, em um universo predominantemente masculino, mas que os encarou com garra.

Para Carla, os valores militares não são intrinsecamente misóginos, pelo contrário, se alinham com o acolhimento de mulheres no ambiente de trabalho. "O respeito e o trabalho em equipe sempre fizeram parte do meu dia a dia. A confiança está altamente relacionada à capacidade de entrega de resultados, representando um processo contínuo, em construção. Sempre me enxerguei como uma pessoa capaz de alçar qualquer voo. Para tanto, a coragem, a tenacidade e a capacitação continuada, são pilares básicos, a meu ver. Sou a primeira, mas certamente, muitas outras virão", aposta.

 

A major-brigadeiro acredita que mais mulheres em postos de controle é resposta das Forças Armadas à demanda social por equidade
A major-brigadeiro acredita que mais mulheres em postos de controle é resposta das Forças Armadas à demanda social por equidade(foto: Sgt Johnson Barros/Força Aérea)

 

Apesar da disposição vanguardista, ela conta que precisou do apoio de muitos colegas pelo caminho, para abrir fronteiras:"Ninguém caminha sozinho e todas as conquistas são compartilhadas. É o resultado do trabalho das pessoas, em todas as esferas da Organização, que determina o bom cumprimento da missão, o sucesso de um projeto, a possibilidade de uma inovação."

Em sua visão, sua promoção tem significado relevante para toda sociedade brasileira e simboliza os avanços que as Forças Armadas têm realizado em direção à cidadania. "A diversidade de talentos, de competências e de habilidades são o que torna a Força adaptável, moderna, integrada e, sobretudo, resiliente. Alinhada, também, aos interesses da sociedade, que busca equidade e inclusão para seus cidadãos em todas as esferas", ela defende, ressaltando que" o efetivo feminino, atualmente, representa cerca de 14% do total. No entanto, já estamos nas escolas de formação e em todas as áreas, operacionais e administrativas. E a questão não se trata apenas do quantitativo, há cada vez mais mulheres em cargos de comando, direção e chefia. Somos fundamentais para o alcance da missão institucional."

Para fomentar o ingresso e aumentar a retenção de talentos femininos, a médica defende que é preciso que as forças de segurança invistam mais na construção de um ambiente onde as mulheres se sintam seguras, fortes e engajadas, além de ser necessário um trabalho de divulgação, para a sociedade, sobre as características, as atividades e "as possibilidades de uma bela carreira."

Luta pela equidade

 

Carla é médica especialista em diversas áreas, como hematologia, vigilância sanitária e epidemiológica
Carla é médica especialista em diversas áreas, como hematologia, vigilância sanitária e epidemiológica(foto: Sgt Johnson Barros/Força Aérea)

 

Segundo dados do Ministério da Defesa sobre a composição das Forças Armadas, em 2020, a Marinha tinha 11% do seu efetivo total de mulheres; no Exército, elas eram 6%; e na Força Aérea, mesmo com maior percentual, apenas 18%. No total, 33.960 brasileiras integram as Forças Armadas, o que corresponde a menos de 10% do efetivo.

Apesar de apresentarem um crescimento contínuo nas últimas décadas, os números da presença feminina nos quadros militares demonstram que a mudança tem sido lenta e está longe de refletir a sociedade brasileira, composta em 51,5% por mulheres.

E, se a demanda por paridade de gênero nas corporações militares vem crescendo por dentro, com mais profissionais aspirando a ascensão nas carreiras, a pressão por fora também aumenta. Em outubro deste ano, a Procuradoria-Geral da República (PGR) protocolou no Supremo Tribunal Federal (STF) três ações para suspender normas que restringem vagas para mulheres nos quadros das Forças Armadas.

Nas ações, a PGR argumenta que as normas internas da Marinha, da Aeronáutica e do Exército que estipulam o percentual de mulheres que podem participar de cursos de formação de militares são inconstitucionais — todos, independente de gênero, deveriam concorrer em condições de igualdade dentro das vagas oferecidas nas seleções militares.

"Não há fundamento razoável e constitucional apto a justificar a restrição da participação feminina em corporações militares. Se o legislador e as próprias corporações consideram que as mulheres são aptas a exercer os referidos cargos, não é plausível estabelecer impedimentos ou restrições ao exercício desse direito fundamental, sob pena da configuração de manifesto tratamento discriminatório e preconceituoso" afirmou a procuradora interina, à época, Elizeta Ramos. Não há prazo para decisão do Supremo sobre a questão.

fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/euestudante/trabalho-e-formacao/2023/12/6670570-brasil-tem-primeira-mulher-oficial-de-3-estrelas-na-historia-das-forcas-armadas.html

 


Matérias Publicadas por Data

Artigos do CFEMEA

Coloque seu email em nossa lista

lia zanotta4
CLIQUE E LEIA:

Lia Zanotta

A maternidade desejada é a única possibilidade de aquietar corações e mentes. A maternidade desejada depende de circunstâncias e momentos e se dá entre possibilidades e impossibilidades. Como num mundo onde se afirmam a igualdade de direitos de gênero e raça quer-se impor a maternidade obrigatória às mulheres?

ivone gebara religiosas pelos direitos

Nesses tempos de mares conturbados não há calmaria, não há possibilidade de se esconder dos conflitos, de não cair nos abismos das acusações e divisões sobretudo frente a certos problemas que a vida insiste em nos apresentar. O diálogo, a compreensão mútua, a solidariedade real, o amor ao próximo correm o risco de se tornarem palavras vazias sobretudo na boca dos que se julgam seus representantes.

Violência contra as mulheres em dados

Cfemea Perfil Parlamentar

Direitos Sexuais e Reprodutivos

logo ulf4

Logomarca NPNM

Cfemea Perfil Parlamentar

Informe sobre o monitoramento do Congresso Nacional maio-junho 2023

legalizar aborto

...