Relatório da Think Olga analisa a saúde mental das brasileiras e alerta: quanto mais empobrecidas, mais sobrecarregadas. Ansiedade e depressão afetam milhões. Governo começará a fazer as mudanças necessárias?

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Próximo ao fim do primeiro ano do governo Lula 3, Brasília receberá eventos que visam encaminhar importantes diretrizes no que diz respeito à saúde e aos direitos das mulheres. Entre 6 e 7 de dezembro, o Ministério das Mulheres promove o seminário Política Nacional de Cuidados. Já nos dias 11 a 14 de dezembro, ocorrerá a 5ª Conferência Nacional de Saúde Mental.

Como documentado pela Think Olga, ONG cujas pesquisas dão suporte à elaboração de políticas de equidade de gênero, a crise social e econômica, acentuada pela pandemia do coronavírus, castigou mais severamente as mulheres. O relatório Esgotadas: o empobrecimento, a sobrecarga de cuidado e o sofrimento psíquico das mulheres traz uma série de dados sobre tais questões e aponta que quase 60% delas sente alguma forma que sua saúde mental não vai bem.

“O dado de que 45% das mulheres são diagnosticadas com ansiedade ou com depressão é algo que nos chocou bastante. Porque estamos falando de quase metade das mulheres brasileiras. São diversos fatores que levam a essa condição. Ao mapear tais dados, vimos que o primeiro resultado que dá mais insatisfação, ou mais agrava a saúde mental das mulheres, é a situação financeira”, explicou Nana Lima, psicanalista ligada ao Think Olga, ao Outra Saúde.

Como indica Nana, não se tratam de meros distúrbios pessoais. Cada vez mais na “moda”, é infrutífero tratar da saúde mental dissociada das condições objetivas da vida material. Como já alertou o psiquiatra Paulo Amarante, em suas análises publicadas no Outra Saúde, não podemos encarar as frustrações relativas à falta de reconhecimento, dinheiro, emprego, participação política e acesso à cidadania como se fossem apenas questões psíquicas.

“É importante entender que o indivíduo não vai conseguir mudar questões estruturais, sistêmicas, então é muito positivo que se entenda a importância [do cuidado com saúde mental], mas o setor público precisa fazer o papel dele, olhar mais para a prevenção e não só remediar. Deve desenvolver e implementar políticas que reduzam as desigualdades de gênero e raça na distribuição de renda, acesso ao trabalho digno e combate a disparidades salariais. Esses dados no Brasil são gritantes, de maneira que o setor público e a gestão de saúde podem trabalhar nisso, principalmente na questão da prevenção”, corrobora Nana Lima.

Nesse sentido, uma política de cuidados é importante para começar a operar na base da sociedade mudanças que levam anos para se afirmar. Um governo de recorte progressista, diante do quadro de instabilidades nacionais e globais em que nos encontramos, não pode perder a chance de acelerar uma agenda neste sentido.

“A desigualdade é acentuada e tem recortes de raça e classe social para tarefas cotidianas, como preparo do alimento, limpeza, organização da casa, o cuidado direto a pessoas com algum grau de dependência, como crianças ou idosos”, defendeu a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, no lançamento do Grupo de Trabalho responsável por elaborar a Política Nacional de Cuidados, em maio.

“Temos 11 milhões de mães solos no Brasil, a única renda da casa. Essa é uma renda curta, pequena. E a mulher tem de conseguir conciliar o trabalho dentro de casa com o trabalho fora de casa. Inclusive para conseguir essa renda que já não é suficiente”, prossegue Nana. “Tais fatores vão se acumulando. Daí você tem a questão da ameaça constante, da violência de gênero, outro fator agravante. Tem a pressão estética, principalmente nas mulheres mais novas, outro dado que elas apontam. É um acúmulo de muitas coisas, mas o que a gente destaca mesmo é a situação financeira combinada com a sobrecarga feminina de trabalho dentro de casa, o cuidado com os filhos, o cuidado com a família, do ambiente doméstico, não podendo largar a mão de trabalhar fora de casa também para conseguir essa renda.”

Não à toa, a Política nacional de Cuidados pretende debater a questão da divisão do trabalho no país, com membros de movimentos sociais e populares que costumam fazer alguma forma de oposição às sociabilidades impostas pelo capitalismo. Segundo o relatório Esgotadas, mulheres têm jornadas de trabalho doméstico 100% superiores aos homens; são 22 horas semanais deste tipo de esforço ante 11 horas do gênero masculino. Dessa forma, será necessária assertividade do governo Lula e suas ministras no avanço desta agenda, dentro e fora do âmbito da saúde.

“É preciso ampliar essa oferta de cuidado em saúde mental no SUS e nas redes de assistência social nacionais, implementar a política nacional de cuidados, avançar e sair um pouco do papel também, porque é bastante urgente. Deve-se implementar e fortalecer as políticas de transferência de renda focadas em mulheres, pois vimos que não adianta só cuidar, tratar e medicar as mulheres, quando sabemos que os fatores de agravamento da saúde mental também passam pela situação financeira”, sintetiza Nana.

   

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