Mulheres de Fortaleza pedem por justiça no maior julgamento de violência policial do ano

Começa no dia 20 de junho o julgamento dos 34 policiais militares acusados de matar 11 pessoas na Chacina do Curió, ocorrida em 2015, na Grande Messejana, periferia de Fortaleza. Desde então, mães e familiares da vítimas lutam por justiça, articuladas com movimentos de mulheres de todo o país. Depois de sete anos e meio, elas estarão frente a frente com os executores de seus filhos, maridos, irmãos. Esse será o maior julgamento do ano no país e o que tem o maior número de militares no banco dos réus desde o massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido em 2006, no Pará

SAIBA MAIS

"Na realidade, muitas vezes as Sagradas Escrituras de cada religião, expressão da pluralidade da Palavra divina, são muito mais abertas e libertadoras do que as sociedades que se tronaram suas intérpretes. Falam de justiça e de igualdade”, escreve Giuseppina D'Urso, em artigo publicado por Riforma, semanário das Igrejas Evangélicas Batistas, Metodistas e Valdenses, 19-05-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

O divino que se encarna e respira entre mulheres de diferentes religiões (2022) é um ágil livrinho publicado pelas Edizioni San Lorenzo e editado por Paola Cavallari, fundadora e até poucos dias atrás presidente do Observatório Inter-religioso sobre as violências contra as mulheres (OIVD).

A publicação resulta de uma videoconferência realizada em 05-10-2020 (portanto, em plena pandemia) pela OIVD em colaboração com o Centro de Estudos sobre a Liberdade de Religião (Lirec). O propósito foi recolher os testemunhos de sete mulheres, pertencentes às mais importantes confissões religiosas, testemunhos relativos à sua relação com as religiões a que pertencem e com as instituições que essas religiões querem ou pretendem representar.

As sete palestrantes (na ordem indicada no texto) são Paola Cavallari (Igreja Católica), Franca Eckert Coen (judaísmo), Mariangela Angela Falà (budismo), Svamini Hamsananda Ghiri (hinduísmo), Susanna Giovannini (pentecostais), Marisa Iannucci (islamismo) e Gabriela Lio (Igreja Evangélica Batista). A relação que surge é feita pelas luzes representadas pela sinceridade com que essas mulheres vivem sua própria experiência religiosa do divino e das tantas sombras que o patriarcalismo ainda lança sobre toda religião institucionalizada.

Talvez apenas no âmbito protestante cristão as mulheres tenham conseguido trilhar um caminho de real emancipação podendo se tornar protagonistas e acessar os cargos de responsabilidade e, em particular, a função de pastor. Marginalização, subordinação quando não violência, de outra forma cruzam transversalmente todos os âmbitos religiosos.

P. Cavallari (org.), Quel divino che si incarna e respira tra donne di diverse religioni: a cura (San Lorenzo, 2022) | Divulgação: Amazon

Como explica Paola Cavallari em seu ensaio introdutório, a marginalização das mulheres é bem descrita pelo estereótipo do "cuidado", aquele papel tão desvalorizado que deveria ser o único âmbito de competência da mulher. Desvalorizado porque a fraqueza e a vulnerabilidade são entendidas como culpa e como pecado (ver sobretudo o caso católico) e não como constituição intrínseca de um ser humano que, ao contrário, se alimenta de um mal-entendido conceito de força, de poder e de dominação de onde derivam o patriarcalismo e todas aquelas formas de violência e de opressão das quais a mulher é uma das primeiras vítimas, juntamente com a Natureza. Porque a violência contra as mulheres, os feminicídios, não representam uma emergência, como o sentido hegemônico gostaria de fazer acreditar, mas uma situação estrutural.

Na realidade, muitas vozes as Sagradas Escrituras de cada religião, expressão da pluralidade da Palavra divina, são muito mais abertas e libertadoras do que as sociedades que se tronaram suas interpretes. Falam de justiça e de igualdade. É o caso da Bíblia judaica e depois cristã, do Alcorão islâmico, dos textos budistas e dos hindus. As sete palestrantes destacam bem esses aspectos, evidenciando como é o filtro interpretativo - modelado em preconcepções e estereótipos inteiramente humanos, das várias culturas - a ser a causa da violência em todas as suas formas.

Torna-se, portanto, emblemático aquele percurso libertador e emancipatório empreendido, como mencionado, há décadas no mundo protestante cristão e bem descrito pela pastora batista Gabriela Lio. A Federação das Mulheres Evangélicas Italianas (FDEI) é uma excelente intérprete da teologia feminista e feminina, onde a Sabedoria, a Sophia, é a imagem do feminino que vê o divino como relação e não como algo dogmático e autoritário (a tão criticada visão toda poderosa de Deus).

Partindo desses pressupostos, a FDEI trabalha de forma muito concreta para combater a violência de gênero por meio de uma obra de conscientização com projetos e publicações. Infelizmente em outros contextos religiosos os objetivos alcançados mesmo com esforço no âmbito protestantes ainda estão muito distantes. Mas acredito que eles constituem um ótimo modelo a seguir para aquelas realidades religiosas que serão capazes de percebê-los.

Leia mais

fonte: https://www.ihu.unisinos.br/628848-o-divino-e-as-mulheres-das-diferentes-religioes


Marcha das Margaridas

Inscreva seu email

Cfemea Perfil Parlamentar

logo ulf4

Aborto Legal

aborto legal capa

Direitos Sexuais e Reprodutivos

logo ulf4

Cfemea Perfil Parlamentar

logo ulf4

Tecelãs do Cuidado - Cfemea 2021

Violência contra as mulheres em dados

Rita de Cássia Leal Fonseca dos Santos

Ministério do Planejamento
CLIQUE PARA RECEBER O LIVRO (PDF)

marcha das margaridas agosto 2023

Estudo: Elas que Lutam

CLIQUE PARA BAIXAR

ELAS QUE LUTAM - As mulheres e a sustentação da vida na pandemia é um estudo inicial
sobre as ações de solidariedade e cuidado lideradas pelas mulheres durante esta longa pandemia.

legalizar aborto

Artigos do Cfemea

Mulheres do Distrito Federal se preparam para receber a Marcha das Margaridas. Cfemea presente!

Dezenas de ativistas do Distrito Federal se reuniram em Plenária para debater e construir a Marcha das Margaridas. A marcha já é um dos maiores eventos feministas antirracistas do Brasil.

Congresso: feministas mapeiam o conservadorismo

Pesquisa aponta: só mobilização pode superar conservadorismo do Congresso. Lá, 40% alinham-se ao “panico moral”; 57% evitam discutir aborto; 20% são contra atendimento às vítimas e apenas um em cada cinco defende valores progressistas

Eleições: O “feminismo” de fundamentalistas e oligarcas

Candidaturas femininas crescem no país, até em partidos conservadores. Se o atributo de gênero perde marcas pejorativas, desponta a tentativa de passar ao eleitorado uma receita morna de “defesa das mulheres” – bem ao gosto do patriarcado

A pandemia, o cuidado, o que foi e o que será

Os afetos e o cuidar de si e dos outros não são lugar de submissão das mulheres, mas chave para novas lutas e processos emancipatórios. Diante do horror bolsonarista, sangue frio e coração quente são essenciais para enfrentar incertezas, ...

Como foi viver uma Campanha Eleitoral

ataques internet ilustracao stephanie polloNessa fase de campanha eleitoral, vale a pena ler de novo o artigo que Iáris Cortês escreveu uns anos atrás sobre nossa participação em um processo eleitoral

Dezesseis anos da Lei 11.340, de 07/08/2006, Lei Maria da Penha adolescente relembrando sua gestação, parto e criação

violencia contra mulherNossa Lei Maria da Penha, está no auge de sua adolescência e, se hoje é capaz de decidir muitas coisas sobre si mesma, não deve nunca esquecer o esforço de suas antepassadas para que chegasse a este marco.

Como o voto feminino pode derrubar Bolsonaro

eleicoes feminismo ilustracao Thiago Fagundes Agencia CamaraPesquisas mostram: maioria das mulheres rechaça a masculinidade agressiva do presidente. Já não o veem como antissistema. Querem respostas concretas para a crise. Saúde e avanço da fome são suas principais preocupações. Serão decisivas em outubro. (Ilustração ...

Direito ao aborto: “A mulher não é um hospedeiro”

feministas foto jornal da uspNa contramão da América do Sul, onde as mulheres avançam no direito ao próprio corpo, sociedade brasileira parece paralisada. Enquanto isso, proliferam projetos retrógrados no Congresso e ações criminosas do governo federal

As mulheres negras diante das violências do patriarcado

mulheres negras1Elas concentram as tarefas de cuidados e são as principais vítimas de agressões e feminicídios. Seus filhos morrem de violência policial. Mas, através do feminismo, apostam: organizando podemos desorganizar a ordem vigente

Balanço da ação feminista em tempos de pandemia

feminismo2Ativistas relatam: pandemia exigiu reorganização política. Mas, apesar do isolamento, redes solidárias foram construídas – e o autocuidado tornou-se essencial. Agora, novo embate: defender o direito das mulheres nas eleições de 2022

nosso voto2

...