Quase lá: Mortalidade materna disparou no DF durante período da pandemia

De acordo com a SES-DF, índice quintuplicou entre 2019 e 2021, com 22 óbitos. De acordo com especialista, a ampliação da vacinação em gestantes é essencial para melhorar os números, além de uma maior atenção ao pré-natal

Arthur de Souza
postado em 16/05/2023 06:00 - Correio Braziliense
 (crédito: Foto ilustrativa - Pixabay)
(crédito: Foto ilustrativa - Pixabay)
 

A mortalidade materna disparou no Distrito Federal, durante o período da pandemia causada pela covid-19. Em 2019, primeiro ano antes da emergência global, a razão de mortalidade materna (RMM) era de 18,9 óbitos por 100 mil nascidos vivos, de acordo com dados da edição especial do Boletim Epidemiológico Anual de 2022, divulgado pela Secretaria de Saúde (SES-DF). No ano seguinte, o número subiu para 33/100 mil e, em 2021, atingiu o pico: 94,7 mortes por 100 mil nascidos vivos. Atualmente, segundo os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas (ONU), a meta é reduzir, até 2030, a RMM para 30 óbitos para cada 100 mil nascidos vivos.

Em relação à quantidade de mulheres que morreram no DF, de 2020 para 2021, houve um aumento de 177%, passando de 13 para 36 (confira o infográfico). De acordo com a Secretaria de Saúde, a covid-19 foi responsável por 22 óbitos maternos, tendo ocorrido três casos em 2020 e 19 em 2021. Os dados de 2022, tanto de RMM e da quantidade de óbitos, ainda são parciais e provisórios, segundo a pasta.

A mortalidade materna pode ocorrer de forma direta e indireta (leia Para saber mais) e a covid-19 entra na segunda categoria. De acordo com o epidemiologista e professor da Faculdade de Saúde da Universidade de Brasília (UnB) Jonas Brant, a pandemia trouxe um "aumento brutal" desses indicadores. "As gestantes ficaram mais expostas ao coronavírus, o qual as levou a um quadro mais severo e, por isso, o aumento da mortalidade", explica. Para o especialista, as autoridades demoraram a colocar as gestantes dentro do grupo de maior risco e prioritário, em relação à covid-19. "Isso, talvez, tenha levado a uma exposição maior desse grupo à doença no início da pandemia", aponta Brant.

Fortalecimento

O epidemiologista comenta que a mortalidade materna também está ligada a problemas relacionados ao pré-natal, o qual carece de uma rede primária muito sólida. "E esse é o grande desafio do governo, que investe pouco na estruturação dessa rede. Ela é pequena, está concentrada em unidades que, em geral, ficam longe das casas das pessoas e o número de agentes comunitários de saúde é pequeno", detalha. "Então, é uma sequência de fatores que fazem com que a nossa rede de atenção primária não seja tão acessível à população. Com isso, nossas gestantes não fazem um bom pré-natal para poder garantir todo acompanhamento dessa gestação e evitar problemas no parto e pós-parto", lamenta.

Segundo Jonas Brant, para diminuir, ou até mesmo zerar os índices de mortalidade materna na capital do país, o ponto-chave é o fortalecimento da rede de atenção primária. "Isto para que a gente possa detectar qualquer alteração e passar as orientações adequadas à gestante", destaca. "Além disso, é necessário melhorar a qualidade do parto, fazendo com que esse momento seja mais humanizado, com o apoio total à gestante, seja no pré-natal e no pós-parto inicial", aponta.

Segundo o especialista, isso é fundamental para que a mulher se sinta protegida e possa se dedicar à gestação sem grandes sofrimentos e estresse. Dados obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação e divulgados em primeira mão pelo Correio, no ano passado, mostram que, somente de janeiro a outubro de 2022, sete processos disciplinares foram instaurados por conta de negligência médica no atendimento a gestantes, puérperas e recém-nascidos — o número era maior do que o de 2021, quando foram três casos.

Falando especificamente da covid-19, Jonas Brant coloca a ampliação da vacinação desse grupo como essencial. "Com isso, caso as gestantes entrem em contato com o vírus, terão boas condições imunológicas para enfrentar a doença", afirma. De acordo com o último boletim semanal sobre a imunização, divulgado pela SES-DF em 9 de maio, a diferença de aplicações é enorme. Enquanto mais de 2,3 milhões de brasilienses tomaram as duas primeiras doses, somente 248 mil pessoas estão com a vacina bivalente — liberada recentemente para maiores de 18 anos — no braço.

Mortes evitáveis

De acordo com o boletim anual da SES-DF, analisar e comparar o impacto da pandemia de covid-19 na mortalidade materna pode contribuir para prevenir as mortes evitáveis no Distrito Federal. Ainda de acordo com o documento, todos os óbitos maternos registrados entre 2010 e 2021 foram classificados como evitáveis. "No DF as discussões dos óbitos maternos são realizadas com representantes da câmara técnica de ginecologia e obstetrícia e dos comitês central e regionais, a fim de classificar adequadamente as causas de óbito, identificar problemas e propor soluções", destaca. "O objetivo da vigilância do óbito materno não se restringe à melhoria das estatísticas vitais, mas também à qualidade e organização do cuidado à saúde", complementa o texto.

Em relação à assistência pré-natal, o boletim aponta que o país como um todo enfrenta dificuldades crônicas e complexas que podem influenciar diretamente os resultados maternos e perinatais. "É possível que o contexto pandêmico e a priorização da covid-19 na alocação de recursos no sistema de saúde também tenham prejudicado a qualidade do pré-natal no Brasil, ao criar barreiras no acesso às consultas de pré-natal de rotina e exames laboratoriais", observa.

O texto finaliza afirmando que o fortalecimento da vigilância do óbito materno e a melhoria da assistência à saúde da mulher, especialmente no período gravídico-puerperal, representam um importante desafio para a saúde do Distrito Federal. "É fundamental que se garanta a qualidade da investigação dos óbitos maternos, de forma a contribuir com o Sistema de Informação de Mortalidade e a elaboração de políticas de saúde efetivas", encerra o boletim.

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Colaborou Adriana Bernardes

 

fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/cidades-df/2023/05/5094670-mortalidade-materna-disparou-no-df-durante-periodo-da-pandemia.html


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