Quase lá: Maioria na área acadêmica, mulheres representam 7% do topo da carreira científica

Na Universidade de Brasília, dos 22 pesquisadores classificados como 1A, apenas 7 são mulheres. Nas exatas, a desigualdade também prevalece

Jade Abreu - Metrópoles


Arquivo Pessoal
 
 

As mulheres são mais da metade no mestrado e no doutorado na Universidade de Brasília (UnB), ocupando 52% e 53% das vagas, respectivamente. Nos programas de iniciação científica, chegam a 62% dos nomes. No entanto, o número afunila quando se chega ao topo acadêmico.

Segundo dados passados pela própria UnB, em todo o país elas representam apenas 7% do topo da carreira científica.

Uma delas é a professora doutora Sônia Nair Báo, de 62 anos (foto em destaque). Desde pequena, enfrentou dificuldades diversas para estudar. Na infância, caminhava todos os dias 10 quilômetros para chegar à escola no interior do Rio Grande do Sul. Para cursar o colegial (atual Ensino Médio), se mudou para a casa da avó e precisou começar a trabalhar.

“Eu não queria ter a mesma vida de dona de casa da minha mãe, e na minha família não tinha muita opção para sair desse cenário. Então eu sabia que precisava estudar para ganhar meu dinheiro”, disse.

Ao traçar o caminho acadêmico, Sônia via nos estudos uma forma de ser independente e de fugir da desigualdade. Na graduação em biologia, a sala tinha mais mulheres que homens. Já no mestrado e no doutorado havia uma proporção mais igual, segundo ela.

No entanto, esse cenário começou a afunilar conforme avançava na carreira. “Quanto maior o nível, mais restrito fica o ambiente”. Atualmente, ela pesquisa tratamento do câncer de mama.

A professora doutora trabalha na Universidade de Brasília e é classificada como 1A , a mais alta da categoria do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Na universidade, dos 22 pesquisadores com essa classificação, apenas sete são mulheres.

Produção

A professora e pesquisadora Sylvia Ficher, também classificada como 1A, destaca que a idade e o tempo de produção fazem diferença para a categoria. “Hoje a arquitetura mudou muito, tem mais mulheres que homens. Quando comecei não era assim”, conta.

Essa categoria é destinada aos pesquisadores que se destacam entre os pares. Para chegar lá, são levadas em consideração as produções de pesquisa nos últimos 10 anos e a formação de novos profissionais.

Quando um pesquisador é classificado no nível 1A, ele tem acesso ao maior valor das bolsas de pesquisa, de apenas R$ 1,5 mil. Confira neste link a tabela dos repasses para cada categoria.

As bolsas de pesquisa feitas pelos classificados em 1A também têm durações maiores que as demais. Por exemplo, um projeto recebe o apoio financeiro para ser desenvolvido por até 5 anos por um profissional neste nível, enquanto o 1B (apenas uma categoria abaixo) deve ser realizado em 4 anos.

 

Sylvia aponta a diferença de cursos em que tradicionalmente são formados por mais homens. “Certas áreas, como física, já tinham uma consistência de pesquisa formada e áreas com maior presença feminina demoraram mais para ter consistência no trabalho acadêmico.”

Desigualdade nas Exatas 

A observação da professora não é restrita a quando começou. Ainda hoje, as áreas mais para o campo de exatas concentram uma diferença enorme na presença de homens e mulheres. Em Engenharia Mecânica, por exemplo, estão matriculados 401 homens e 72 mulheres; em Engenharia de Software, são 740 homens e 113 mulheres; em Engenharia Elétrica, são 390 homens e 72 mulheres. Na física, são 171 homens e 55 mulheres.

Rafaela Felicciano/Metrópoles

Nas áreas das Exatas, a proporção de homens é desigual à quantidade de mulheres na UnB

 

Pensando em reduzir a diferença e deixar o ambiente mais acolhedor para as mulheres, a professora doutora em física Ambiental Erondina Azevedo, da UnB, desenvolveu o projeto Eureka – meninas na física. O grupo tem o objetivo de ser um local de apoio entre as universitárias para eventuais situações de machismo dentro do meio acadêmico. Além disso, seleciona as estudantes para apresentar a física às estudantes no Ensino Médio da rede pública.

“Quando se tem uma menina muito boa em exatas, as pessoas não viram para ela e dizem que é boa, mas sim de que é esforçada. Então queremos chamar a atenção dessas estudantes e apresentar a possibilidade da carreira acadêmica nas exatas”, explicou a professora.

O grupo teve início em 2018 e já trabalhou com mais de 2 mil meninas. Recentemente, os projetos foram apresentados em escolas no Itapoã e no Paranoá.

Também tentar reduzir essa diferença, a Universidade de Brasília informou em nota que lançou edital para incentivar a presença de mulheres na ciência. O objetivo é fomentar projetos de extensão da área acadêmica para a rede pública de ensino do Distrito Federal, estimulando a participação de mulheres e meninas em temas como Ciências e Tecnologias. Poderão ser selecionadas 20 pesquisas.

Prêmio Internacional

Apesar das desigualdades e, especialmente, na área de exatas, as pesquisadoras de Brasília têm cada vez mais se destacado. Nesta segunda-feira (6/3), uma professora de matemática da Universidade de Brasília (UnB) recebeu o prêmio “Science, she says”, concedido pelo Ministério das Relações Exteriores da Itália a mulheres pesquisadoras ao redor do mundo.

Reprodução/L’Oreal

Jaqueline Godoy Mesquita

 

A pós-doutora Jaqueline Godoy Mesquita, de 37 anos, é a única premiada na América Latina.

A solenidade ocorreu em Pádua, na Itália. Trata-se da primeira edição do prêmio, que visa reconhecer o alto valor das pesquisadoras estrangeiras que se destacaram nos países em que trabalham. Além de Jaqueline, ganharam medalha e diploma do ministério italiano cientistas da África, da Ásia, da Europa e da América do Norte.

 

fonte: https://www.metropoles.com/distrito-federal/transito-df/distrito-federal-transito-df/maioria-na-area-academica-mulheres-representam-7-do-topo-da-carreira-cientifica


Matérias Publicadas por Data

Artigos do CFEMEA

Coloque seu email em nossa lista

lia zanotta4
CLIQUE E LEIA:

Lia Zanotta

A maternidade desejada é a única possibilidade de aquietar corações e mentes. A maternidade desejada depende de circunstâncias e momentos e se dá entre possibilidades e impossibilidades. Como num mundo onde se afirmam a igualdade de direitos de gênero e raça quer-se impor a maternidade obrigatória às mulheres?

ivone gebara religiosas pelos direitos

Nesses tempos de mares conturbados não há calmaria, não há possibilidade de se esconder dos conflitos, de não cair nos abismos das acusações e divisões sobretudo frente a certos problemas que a vida insiste em nos apresentar. O diálogo, a compreensão mútua, a solidariedade real, o amor ao próximo correm o risco de se tornarem palavras vazias sobretudo na boca dos que se julgam seus representantes.

Violência contra as mulheres em dados

Cfemea Perfil Parlamentar

Direitos Sexuais e Reprodutivos

logo ulf4

Logomarca NPNM

Cfemea Perfil Parlamentar

Informe sobre o monitoramento do Congresso Nacional maio-junho 2023

legalizar aborto

...