Apenas 20% dos profissionais da área se consideram pretos ou pardos, segundo levantamento do Perfil Racial da Imprensa Brasileira; mais da metade das jornalistas negras disseram ter sofrido racismo

 

  Publicado: 06/03/2023 - Jornal da USP

Texto: Hugo Luque
Arte: Carolina Borin Garcia


 

Em tempos de crescimento do debate sobre a representatividade negra na grande mídia – com a chancela das redes sociais -, a realidade ainda está longe de ser a de igualdade no jornalismo. Embora 56% da população brasileira seja negra, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 20% dos profissionais de jornalismo se declararam pretos ou pardos na última pesquisa do Perfil Racial da Imprensa Brasileiralevantamento feito por Jornalistas&Cia, Portal dos Jornalistas, Instituto Corda e I’Max. Além disso, 52,3% das mulheres negras entrevistadas dizem já terem sido vítimas de misoginia e racismo. Para evoluir nessa questão é preciso muito mais do que levar o tema ao centro dos debates, mas também combater desde a base a desigualdade racial – uma herança cultural do Brasil, país que recebeu o maior fluxo de pessoas negras vindas da África entre os séculos 16 e 19 para serem escravizadas.

Paulo Eduardo Alves da Silva, professor da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto (FDRP) da USP, observa que “a representatividade de pessoas negras em profissões tradicionalmente ocupadas por pessoas brancas continua muito baixa se compararmos à proporção desse estrato no conjunto total da população”. Na visão dele, essa não é uma questão exclusiva do jornalismo, mas de quase todos os cargos de destaque no mercado de trabalho, porque “o racismo é uma triste herança da nossa história que estupidamente preservamos”.

Os poucos que conseguem alcançar patamares de maior visibilidade na imprensa também sofrem para se manter em evidência. Segundo levantamento realizado em 2017 pelo Coletivo Vaidapé, somente 3,7% dos apresentadores de telejornais de sete das principais emissoras do Brasil eram negros – mesmo com exemplos como a carreira já solidificada de Glória Maria e, na época, a rápida e intensa ascensão de Maju Coutinho. “Pessoas negras estão presentes em profissões de menor valorização e quase nunca, salvo honrosas exceções, em posições de poder, de exposição e mais valorizadas”, enfatiza o professor.

Ainda de acordo com o Perfil Racial da Imprensa Brasileira, 61,8% dos jornalistas brancos ocupam cargos gerenciais nas redações. Já os profissionais de imprensa negros são maioria em cargos operacionais, como o de repórter, redator e produtor (60,2%).


Paulo Eduardo Alves da Silva - Foto: Arquivo Pessoal
 
Mirella busca a glória
 

Vídeo em que Mirella Archangelo e seu grupo recebem e são entrevistados pela Glória Maria – Vídeo: Reprodução/YouTube

 

Apesar de toda a dificuldade, Mirella Archangelo, de apenas 16 anos, busca quebrar paredes em busca do sonho de dar voz à periferia. “Eu acredito que, atualmente, a gente tem, sim, mais mulheres negras atuando nessa área. Porém, tem de melhorar muito. O Brasil ainda tem de melhorar muito”, opina a jovem. Em 2017, Mirella ganhou os holofotes ao fazer, de forma improvisada, uma reportagem denunciando os buracos em sua rua, em Ribeirão Preto. A repercussão foi tamanha que motivou Glória Maria a visitar a garota, em um encontro que mudou sua vida. “Antes eu queria cursar Letras e ser professora, mas depois da repercussão do vídeo, decidi que gostaria de me tornar jornalista e cursar essa carreira.”

Contudo, a futura jornalista entende que não adianta só querer sem ter a garantia de seu espaço de direito. De acordo com o mesmo levantamento do Perfil Racial da Imprensa Brasileira, que chegou à porcentagem de jornalistas negros no País, 98% dos profissionais pretos ou pardos da área apontaram mais dificuldade para desenvolver a carreira do que os colegas brancos. Apesar de todos os obstáculos, Mirella acredita que não existe apenas ela com essa inspiração em Glória Maria e esse sonho de fazer jornalismo. “Com certeza deve ter diversas outras ‘Mirellas’ pelo Brasil e pelo mundo, que são negras, da periferia e que precisam estudar muito e querem estudar muito para conseguir apresentar um Jornal Nacional, por exemplo.”


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