Negríndia
Sobre o transbordar de cá e de lá,
Sobre bordas
Sob beiras
Sobre estar cheia e não aguentar falsas linhas
Imaginárias fronteiras
Tamanhos precipícios
A vida vai pulsando nas corredeiras
Nas margens tinha caneta, papel e lápis
Na margem também tinha sentimentos, pensamentos e emoções
Oceanos de passagens
Nesses tempos, descobrir a força da tinta escorrendo no papel
A cura integradora de me acolher nessa conversa silenciosa entre eu e eu mesma
Encontros diários com todas as lembranças, sensações e as partes importantes, marcantes da história
Olhares que passavam observando todas as vísceras enrijecidas
Rastreando a pouca circulação de ar
Buscando águas para banhar tanta secura
Atenta e comprometida nesses momentos de profunda reciprocidade comigo mesma, me dediquei
E certo dia acordei ouvindo vozes
Existiam várias vozes dentro de mim num dialogo intenso, tudo natural, vital e gentil no tom da voz mais imponente e sábia, o silêncio!
Curiosa sempre que sentava pelo chão e ficava ouvindo a minha respiração e as vozes
Era tão suave, me emocionava sempre as histórias contadas
Ouvia, ouvia, ouvia
Loucamente serena, ouvia
E ouvia e escorria em papeis pedaços de mim
Me olhava por dentro e cuspia fora tanta poesia, tanto amor, tanta vida.
Eu olhava e reparava os pedaços, reconhecia e me juntava num movimento cuidadoso
Renascer sempre pode, cada momento e um pouco mais aos poucos
Florescer pode ser.
Ser é poder!
Negríndia é artivista, poeta marginal autônoma, sapa mãe.