Poema e ilustração de Lídia Rodrigues
Tempos de esperanças escassas?
Pela dureza da realidade ou pela consciência dela?
Quem traz em sua própria história a cor e a dor perpetrada por ser,
Traz encravado na alma o banzo dos ancestrais.
E se além de ser quem é quiser ser um pouco mais?
Quiser além do que lhe querem deixar ter?
Se quiser amar além dos limites que demarcaram?
Se quiser perguntar da vida pra além das fronteiras das respostas ou soluções?
Aí é guerra todo dia, e a cada batalha nova cicatriz!
E mesmo com dias alegres parece difícil ser feliz
Pois a solidão inerente àquelas que não se acomodam,
em nenhum vagão desse mundo,
e vagantes incomodam,
pela sensatez do seu delírio que cortante penetra fundo,
e pode levar ao desespero...
Mas nossos passos vêm de longe e rumam para o futuro,
(Uma antes de mim já falou, eu apenas reproduzo)
E há caminhos que podemos percorrer com alguma segurança
Arrudiando a solidão e a tristeza, passando longe da violência
E levando amarrada no peito o que conseguirmos de esperança
Para utilizar como matéria da nova sonhada realidade
Esse caminho só dá pra cruzar quando juntas
Resolvemos partilhar a visão
Da gentileza, da troca e da solidariedade
E, além disso, partilhar sonhos, afeto e pão
E ter predisposição a aceitar a felicidade
Do caminho por si e em si
Pela sobrevivência, pelo amor,
mas também pela liberdade
que almejamos construir
Daí quem sabe percebamos
Que a realidade pode não ser toda outra
Mas que já há leveza e força na amizade
Que nos carrega pra utopia
E faz a vida cheia de alegria
Só por ter mudado a rota!
Lídia Rodrigues é artivista feminista e sapatão, integrante do grupo Tambores de Safo e da Articulação de Mulheres Brasileiras.