Por Guacira César de Oliveira

Este jornal feminista está em circulação há 20 anos! Desde o início, mantivemos o compromisso com a luta das mulheres, a busca da sintonia fina com os nossos movimentos e o cuidado com o vínculo afetuoso estabelecido com você que é noss@* leitor@.

Folheando a coleção do Fêmea, desde a sua primeira edição (em fevereiro de 1992), revimos a nossa contribuição para o fortalecimento do movimento de mulheres e feminista brasileiro. Bem antes de termos disponível e sob nosso domínio as condições técnicas oferecidas pela internet, muito antes dos Orkuts e Facebooks, o princípio da horizontalidade que orienta o feminismo já norteava a nossa prática política de trabalho em rede de movimentos.

Quando criamos esse veículo, estávamos cientes de que informação é poder. Queríamos democratizar a informação, não só em termos do acesso, mas também da sua produção, por meio da veiculação dos saberes e conteúdos que nós mulheres enunciamos como questão, como problema, como perspectiva ou como alternativa. Desde então, neste modesto veículo de comunicação feminista, costumamos vocalizar o que ainda não encontra eco na sociedade e suas instituições. Veiculamos questões carregadas de relações desiguais de poder, sobre territórios políticos em disputa.

Por isso, ao completar nosso vigésimo ano, o Fêmea aproveita para celebrar a ousadia das mulheres jovens nas últimas eleições municipais. Saiba “leitor@” que das 1.788 candidaturas da juventude (entre 18 e 20 anos de idade) para as Câmaras de Vereador@s, 1.065 foram de mulheres jovens, ou seja, 59,6%%. Uma disposição política que merece ser aplaudida, inclusive pelo ineditismo do fato político que produziu. E também pelo peito de enfrentar os poderosos mecanismos antidemocráticos que garantem que o poder fique sempre nas mãos de quem já está lá: homens, adultos, idosos, brancos e proprietários. Agora está reverberando mais forte: o lugar das mulheres também é na política, também é no poder!

Contudo, a inércia dos resultados eleitorais é um escândalo! Se o maior avanço nestas eleições foi o aumento das candidaturas femininas (finalmente, alcançou-se o percentual de 30%, previsto em lei), o maior retrocesso é, sem dúvida, o recrudescimento das forças do poder patriarcal e conservador contra as exigências do movimento de mulheres e feminista e as demandas da sociedade por direitos.

Tal atraso se evidencia na contradição entre o grande crescimento das candidaturas de mulheres e o pequeno aumento no número de vereadoras eleitas. Se as candidatas às Câmaras Municipais aumentaram em 10,5%, as eleitas cresceram apenas 1,2% desde 2008.

Outra evidência, menos quantificável, mas bastante perceptível, diz respeito à ocupação do debate público pelos conservadorismos religiosos e outras forças antidireitos. Estes poderes religiosos participaram das campanhas eleitorais sedentos de poder político. Ainda que se concentrassem em alguns partidos, estiveram presentes em quase todas as agremiações e avançaram agressivamente, especialmente pelos diversos meios de comunicação (rádios e TVs) dos quais suas igrejas são concessionárias. O principal ataque foi contra o princípio da laicidade do Estado, que defende a separação entre Estado e Religião.

E o que isso tem a ver com os direitos das mulheres? Tudo! Essas forças conservadoras e fundamentalistas podem até divergir em alguns aspectos, mas, quando se trata das mulheres, a convergência é certa contra o livre exercício da nossa sexualidade, contra nossos direitos reprodutivos e para nos manter nos lugares tradicionais de submissão pela divisão sexual do trabalho e dependência econômica.

Finalmente, ao completarmos 20 anos de existência, a equipe do Fêmea aproveita para certificar noss@s leitor@s que estamos com disposição política renovada. Chegamos em 2013 com vontade para seguir resistindo aos retrocessos que ameaçam as conquistas das lutas feministas e antirracistas e para contribuir com nossas forças no avanço da efetivação de novos direitos e na construção de alternativas, para um futuro onde tod@s tenhamos futuro.

Até o ano que vem. Boas festas e feliz ano novo para todo mundo!


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