Colaboração de Guacira Cesar de Oliveira
Diretora colegiada do CFEMEA

De acordo com estudo realizado pelo Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos), em relação à nova estrutura partidária emergente das urnas, o desempenho dos Partidos Políticos de esquerda deverá atenuar as dificuldades que antes eram previstas para o governo Lula, na formação de sua base de apoio no Congresso Nacional.

Somados, os Partidos de esquerda - PT, PSB, PDT, PPS e PCdoB - elegeram 163 deputad@s federais. Com isso, pode-se prever que, empossado, Lula poderá contar com um apoio parlamentar indispensável às votações referentes a temas urgentes, polêmicos e de diferentes temáticas.

Míriam Martinho, da Rede de Informação Um Outro Olhar, espera que as promessas de campanha sejam cumpridas inclusive no Legislativo Federal. "Esperamos a aprovação do projeto de parceria civil, para pessoas homossexuais, ou quaisquer outros dispositivos que visem garantir direitos básicos a casais de mesmo sexo", diz Míriam. O movimento de gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros também reivindica a implementação das metas propostas no Programa Nacional de Direitos Humanos.

As dificuldades futuras não serão poucas. Segundo Guacira Cesar, diretora colegiada do CFEMEA, a política do "é dando que se recebe", que garantiu a ampla margem de manobra ao Executivo nesses últimos oito anos é inaceitável do ponto de vista ético para o governo que assumirá em janeiro.

A cientista política Cristina Buarque lembra, ainda, que erros cometidos durante a campanha eleitoral não podem ocorrer na gestão de Lula. Dentre eles, a falta de comunicação com a cidadã brasileira. "O processo eleitoral não foi capaz de atrair as eleitoras, não levou uma mensagem para a mulher trabalhadora, intelectual. As campanhas continuaram dirigindo-se apenas às donas-de-casa. Alguns disseram que as mulheres são conservadoras. Isto é um equívoco. As mulheres não são conservadoras. Conservador é quem faz a política e não se vira para elas, não vê que elas saíram do lugar", contesta Cristina.

Para ela, a presença das mulheres feministas nos cargos de poder do governo Lula é o primeiro passo para outras transformações: "nós não podemos estar sendo vistas apenas para aqueles cargos que nós conquistamos a três governos atrás, não devemos ocupar espaços somente na área social. Por exemplo, a reforma agrária e da agricultura familiar são pontos importantes a serem discutidos com as mulheres".

Cristina explica que em alguns momentos dos processos eleitorais, as lideranças feministas acabam tornando-se expectadoras dos fatos políticos: "ficamos naquela dúvida: vamos aprender a fazer política com os políticos ou vamos mostrar ao mundo que existe uma maneira transformadora de fazer política?".

É hora de reconhecer os limites para poder enfrentá-los. É hora de trabalhar para a mobilização da sociedade, de alimentar o sentimento de poder que emana do exercício ativo da cidadania. O futuro vai exigir, dos movimentos sociais, a preservação de sua autonomia frente ao governo para a superação das injustiças, das discriminações, das desigualdades, na construção de um outro Brasil.


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