Elizabeth Saar
Feminista de Assessora Parlamentar do CFEMEA. Participou da XIV Conferência Internacional de Aids

De 7 a 12 de julho, reuniram-se em Barcelona pesqui-sadores, políticos, gestores de saúde e ativistas de todo o mundo para discutir o enfrentamento da epidemia de aids. Vozes de todos os cantos atenderam ao chamado "Conhecimento e Comprometimento para a Ação", tema da XIV Conferência Internacional de Aids. A Conferência foi organizada pela Sociedade Internacional de Aids e pela Fundación Barcelona SIDA 2002, com o apoio de alguns co-organizadores, e contou com cerca de 17 mil pessoas.

A Conferência foi dividida em sete assuntos, englobando ciências, epidemiologia, prevenção, ciências sociais, intervenção, política e advocacy. Inúmeros trabalhos foram apresentados. Vários deles, embora classificados em desenvolvimento, inclusão econômica, pobreza e cultura, referiam-se à situação das mulheres, parcela fortemente atingida pela epidemia. A pobreza e a exclusão econômica têm feito com que grande número de meninas tenha como principal saída para sua situação a prostituição, ocasionando exposição à epidemia, princi-palmente em países africanos. O tratamento desigual entre homens e mulheres, política e socialmente, material e simbolicamente, também tem levado a que as mulheres tenham um maior grau de exposição à epidemia e dificultam as intervenções para prevenção.

Outra marca deste encontro foram os protestos de ativistas de todas as partes (com destaque especial para as mulheres soropositivas latino-americanas), buscando tornar global as respostas à epidemia de aids, ultrapassando os limites econômicos de cada país e tornando-a responsabilidade de todos. Tal compromisso deve ser assumido, principalmente, pelos países desenvolvidos, que detêm conhecimento e dinheiro para fornecer remédios e realizar pesquisas.

Há muito, a aids deixou de ser um problema apenas de saúde. As saídas para a epidemia cruzam os diferentes aspectos da vida social: cultural, religioso, comportamental, etc. Pensar em respostas positivas significa ultrapassar as fronteiras dos medicamentos e cuidados médicos, imprescindíveis, mas não suficientes. Os 20 anos de epidemia já demonstraram que esta não é uma doença exclusiva de homossexuais masculinos, hemo-fílicos, usuários de drogas e profissionais do sexo; torna-se cada vez mais evidente o papel que as desigualdades sociais e as desigualdades de gênero jogam no seu controle e erradicação. No entanto, não se viu nesta Confe-rência um número de sessões específicas para a discussão desses temas com o mesmo destaque que foi dado às questões médicas. Produções sobre isso não faltaram: as sessões de pôsteres foram um bom exemplo do que o mundo está produzindo neste sentido.

O CFEMEA também estava lá, apresentando seu pôster sobre o trabalho que desenvolve junto ao Congresso Nacional, através do projeto "Intervindo no Legislativo - Mulheres e Aids", que se refere ao acompanhamento das propo-sições legislativas que tramitam na Câmara dos Deputados e no Senado Federal sobre o tema. O projeto também permitiu o desenvolvimento da campanha de rádio "Cidadania PositHIVa", veiculada em 2001/2002.

O crescente número de novos casos de infecção por HIV entre mulheres, por si só deveria provocar grande discussão do tema em nosso movimento. Vem se somar a este fato a característica desta epidemia de expandir a discussão, também, para novos (velhos) temas que sempre estiveram presentes na agenda do movimento feminista, como sexualidade, direitos sexuais, direitos reprodutivos, violência, empoderamento das mulheres e as relações afetivo-sexuais, entre outros. É necessário, mais uma vez, enfatizar que as políticas públicas não devem desconhecer essas temáticas. Cabe a nós, feministas, o compromisso de tornar público o que pensamos e o que queremos em relação ao enfrentamento da aids, aos seus significados e responsabilidades públicas e pessoais; o compromisso de criar condições para a realização, por que não, de um grande encontro para iniciarmos essa discussão!


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