Sueli Carneiro, diretora do Geledés - Instituto da Mulher Negra
"A Conferência coloca as reivindicações feministas na ordem do dia. O imaginário social diz que, afinal, as mulheres já chegaram lá. Este é um momento de reflexão, pois resgatamos os avanços da prática feminista na sociedade ao pensar as novas formas que as desigualdades de gênero adquirem. Os avanços de fato existiram, mas novos desafios se colocam.
As mulheres adentraram o mercado de trabalho, mas continuam com salários diferenciados, em relação aos homens. A violência de gênero já é encarada como problema de ordem pública, mas a impunidade continua existindo.
Esta também é mais uma oportunidade para dar visibilidade às desigualdades raciais e étnicas intragênero. As mulheres negras são o segmento mais marginalizado da sociedade e as desigualdades que sofrem na sociedade estão em todos os indicadores sociais. Para elas, quase tudo ainda precisa ser feito. A Conferência dá visibilidade para esse tudo a ser feito".

Azelene Kaingáng, presidente do Warã - Instituto Indígena Brasileiro e integrante do Conselho de Articulação dos Povos e Organizações Indígenas
"O movimento de mulheres contribui para tornar a causa indígena mais próxima da realidade. Ouvi, recentemente, que solicitar que o Governo cumpra políticas públicas para povos indígenas já é difícil. Fazer reivindicações em defesa das mulheres indígenas é 'pedir demais'. A gente sempre vivenciou isso. Na medida em que uma Plataforma Política faz esse recorte étnico, indígena e de gênero, adquirimos uma importância, uma força muito grande.
Gostaria de explicitar o papel fundamental das mulheres na defesa dos povos indígenas. Esse é um caminho sem volta. Não dá mais para ignorar a voz das mulheres indígenas. Os candidatos e candidatas não terão como ficar calados diante da Plataforma. Não terão como ignorar reivindicações indígenas, pois representam opiniões legítimas do próprio movimento de mulheres".

Letícia Yawanawa, coordenadora do Movimento de Mulheres Indígenas do Acre e sul do Amazonas
"Esperamos que a Plataforma chegue às autoridades pra fazer valer nossos direitos. Hoje, o movimento indígena quer falar por si só. Queremos falar do que estamos sentindo e o que queremos. A Conferência é a oportunidade de dar visibilidade ao que queremos. Nossos direitos têm sido engavetados há 11 anos. O Estatuto dos Povos Indígenas, que estamos levando para Brasília, não é discutido no Congresso Nacional. Nossos interesses como demarcação de terras, a questão da biodiversidade e o conhecimento tradicional não são contemplados".

Elizabete Barreiros, coordenadora do Fórum de Mulheres/DF
"O processo da CNMB, como espaço de aglutinação de diferentes correntes e olhares do feminismo e do movimento de mulheres, reafirma Beijing e busca ampliar a nossa intervenção no debate público, de crítica ao modelo de sociedade até hoje vigente. Trazemos propostas de transformação, não obstante toda nossa diversidade. Apontamos caminhos para um mundo de liberdade, igualdade, respeito, justiça, solidariedade e paz".

Margarida Pereira da Silva, secretária-executiva do MNTR/NE
"No processo preparatório para a Conferência, sentimos falta das discussões sobre fatores locais. Uma coisa é participar da elaboração do documento, outra é acrescentar questões, ajustar textos. A participação das mulheres rurais foi pequena. É preciso reivindicar legislação e a implementação de políticas públicas que possam combater problemas como a violência doméstica, que afeta muito as trabalhadoras rurais.
As propagandas não refletem a realidade dos assentamentos rurais. As trabalhadoras do campo não têm nem documentação própria. O movimento de mulheres precisa manifestar seu posicionamento sobre estes temas. Acho que o MNTR/NE e a CONTAG deveriam ter estado mais envolvidos no processo da Conferência".

Wilza Vieira Villela, médica, assistente de direção do Instituto de Saúde de São Paulo e integrante do Comitê de mobilização da CNMB em São Paulo
"Realizar esta grande mobilização num ano eleitoral nos permite ver como as questões políticas da atual conjuntura estão sendo discutidas por nós, mulheres. Em anos anteriores, de eleições gerais e municipais, o que se tinha eram reuniões menores e isoladas. Lideranças femininas e feministas conversavam com candidatos apenas em nome de sua organização.
Agora, temos um amplo documento. A Plataforma Política Feminista reflete o enorme avanço organizativo do movimento. Por outro lado, temos um documento com mais poder de negociação e intervenção, um documento suprapartidário".

Fátima Oliveira, integrante do Conselho Diretor da Rede Feminista de Saúde
"Eu entendi, desde o começo dos debates, assim como se estivesse 'escrito nas estrelas', que a CNMB seria a maior mobilização política do feminismo em nosso país, depois do lobby do batom. Em recente conversa preliminar para uma entrevista a uma rádio, indagaram-me: por que uma Conferência Mineira de Mulheres? Disse: 'a vida nos ensinou que a política afeta e tem a ver com o nosso cotidiano. A consciência feminista diz que fazer política é preciso. Sobretudo em um ano eleitoral, no qual a disputa é entre diferentes projetos políticos para nosso país, urge alertar partidos e candidaturas: escutai e lembrai das mulheres!'
As Conferências Preparatórias e a própria CNMB são espaços que ampliam o exercício da cidadania feminina e a discussão sobre a democracia que queremos e precisamos. Também representam momentos singulares para que divulguemos as nossas idéias. As candidaturas ao parlamento e ao executivo devem conhecer o acordado pelo menos em Beijing e em Durban. São análises e propostas tão relevantes que quem postula cargos públicos pela via eleitoral tem a obrigação de conhecê-las. Sem as discussões da CNMB, teríamos maiores dificuldades de relembrar tais propósitos para as mulheres".


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