Maria Goretti David Lopes
Enfermeira.Coordenadora do Programa de DST/Aids de Curitiba, no período de junho de 1999 a setembro de 2001. Presidente da entidade Espaço Mulher

Na condição de mulher e enfermeira defensora do sistema público de saúde e comprometida com a causa feminista, faço da minha prática profissional um instrumento para a melhoria da situação das outras mulheres, ciente que não bastam as informações e os cuidados técnicos.

As mulheres conquistarão a saúde quando consolidarem seus direitos, garantindo seu lugar na sociedade e exercitando, na plenitude, sua cidadania. E no momento em que o jornal Fêmea dá a oportunidade de apresentar um pouco do trabalho realizado, nos últimos dois anos, com a equipe da saúde de Curitiba, espero contribuir com o desenvolvimento de atitudes e posturas críticas no setor público, principalmente em relação às atividades de interesse do movimento de mulheres.

O controle da transmissão vertical da Aids

Curitiba tem uma população de 475 mil mulheres em idade fértil e realiza 39 mil partos por ano. Destes, aproximadamente 25 mil são vinculados à rede do Sistema Único de Saúde (SUS), sendo 20 mil gestantes residentes na cidade e as demais de municípios da região metropolitana.

O Sistema Municipal de Saúde é reconhecido nacionalmente pelo Programa Mãe Curitibana, criado em 1999, e que proporciona acompanhamento às mães e aos bebês, antes, durante e depois do parto. Antes da implantação do programa, havia dificuldade na internação de gestantes, com muitos casos de mulheres em trabalho de parto percorrendo diversos serviços e locais até serem admitidas, geralmente já em período expulsivo. Estudos sobre o pré-natal, parto e puerpério mostravam problemas na qualidade da atenção.

O programa objetiva a redução da mortalidade materna e infantil, a melhoria na qualidade do pré-natal, a melhoria do acesso ao parto hospitalar de boa qualidade, a redução da internação de crianças por doenças respiratórias e por acidentes, a redução da isoimunização Rh e da gravidez de risco e a redução da transmissão vertical da sífilis, toxoplasmose e do HIV.

Destaco as atividades realizadas de controle da transmissão vertical do HIV, que garantiram a detecção precoce do vírus na mulher, por meio da oferta do diagnóstico no início do pré-natal. Além disso, o acompanhamento personalizado, assistência adequada, inclusive com a introdução de inibidor da lactação e de leite artificial desde a maternidade e a organização de referência pediátrica para a atenção de recém-natos de mães com sorologia positiva para HIV.

Relatórios do Ministério da Saúde em 1999 já apontavam: a primeira ocorrência de transmissão perinatal registrada no País, data de 1985. Anualmente, três milhões de mulheres dão à luz. Estima-se que, no Brasil, cerca de 12.898 gestantes encontram-se infectadas pelo HIV, o equivalente a, aproximadamente, 0,4 do total.

Estima-se, também, que um quinto das crianças infectadas terão Aids ou morrerão até os 12 meses de idade, aumentando essa estimativa para um terço até os 6 anos de idade, segundo estudos de Thorne e Newell em 2000.

Em Curitiba encontramos em média 150 mulheres por ano HIV positivas. Com a experiência bem sucedida das ações preventivas e de controle da transmissão vertical somadas à disponibilidade contínua da zidovudina (AZT) em cápsula e injetável nos serviços públicos de saúde, as mulheres vivem mais e os seus filhos são negativos para o HIV.

Em menos de três anos de trabalho, apenas sete crianças das mulheres HIV+ assistidas são portadoras do vírus. Hoje, comemoramos os resultados positivos do Programa Mãe Curitibana e lança-se o desafio de reduzir a mortalidade infantil a patamar inferior a dez mortes por mil nascidos vivos até 2005, intitulado de Pacto pela Vida, com forte articulação intersetorial e parceria com a sociedade civil.

Eu, adolescente de bem com a vida

A sociedade passa por transformações rápidas, tanto de valores como de costumes. Os adolescentes e jovens estão expostos ao uso de drogas, à gravidez precoce, à Aids e a outras doenças sexualmente transmissíveis. Isso torna a nossa preocupação bem maior com o sexo seguro, o que nos leva a lidar de outra maneira com a sexualidade. Assim, como os pais são fundamentais na orientação dos seus filhos, os profissionais de saúde e educadores devem criar espaços em que haja diálogo com os adolescentes e jovens, levando-os a adotar medidas preventivas e hábitos saudáveis em sua vida.

Para isso, profissionais das Secretarias da Saúde e de Educação da capital paranaense desenvolveram a cartilha “Eu, adolescente de bem com a vida”, que está sendo distribuída aos jovens com o objetivo de orientá-los sobre essa fase da vida e a prevenção da gravidez, bem como da Aids e de outras doenças sexualmente transmissíveis. Como os pais também podem precisar de ajuda, foi confeccionada a cartilha “Pais e filhos de bem com a vida”, com um conteúdo que orienta-os a lidar com a adolescência dos filhos.

Para nossa surpresa a cartilha foi adotada, em todo seu conteúdo, pelo Ministério da Saúde e espera-se que seja distribuída em todo o Brasil, contribuindo para o enfrentamento maduro da sexualidade na adolescência.


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