O mês de dezembro, além das festas tradicionais do mundo cristão, traz duas datas que merecem reflexões: o dia 1º, consagrado no mundo inteiro como o Dia de Combate à Aids e o dia 10, também consagrado, mundialmente, como o Dia dos Direitos Humanos.

Portanto, juntar estas datas e, conseqüentemente, os temas, é uma questão não só tranqüila como também necessária, razão porque o Fêmea dedica este número a estas questões.

O Planeta Terra está vivenciando um momento em que as religiões, os valores e os comportamentos das diversas sociedades estão sendo questionados. Nunca se falou tanto em ocidente e oriente e em suas diversidades culturais. Estão sendo abertas cortinas e surgem diferenças jamais imaginadas. Vemos mulheres cobertas, anuladas civilmente e pensamos na resignação ou revolta ocultas atrás daqueles véus.

E nós, do ocidente, será que a ausência dos véus significa ausência de discriminação? Nós, mulheres do ocidente, conseguimos vencer, mais do que as mulheres do oriente, grandes desafios nestes últimos séculos. Entretanto, certos problemas são comuns a todas, entre os quais, a questão dos direitos humanos e da Aids.

No mundo todo, o número de mulheres com o vírus HIV da Aids tem crescido. No Brasil, enquanto que, em 1980 foi detectado o primeiro caso de homem com HIV, só três anos depois foi constatada a infecção na primeira mulher brasileira.

Em 1985, para cada 28 homens infectados tínhamos uma mulher também infectada. Hoje este percentual cresceu, tendo alguns estados brasileiros, um empate no placar da Aids.

Quando vemos que a maioria dos últimos casos (26,6%, segundo o Ministério da Saúde) representa pessoas heterossexuais, não podemos deixar de pensar nas mulheres fiéis a seus maridos ou companheiros e que estão adquirindo o vírus HIV na sua própria cama.

Antes mesmo do advento da síndrome do HIV, as mulheres tinham dificuldades na negociação com seus parceiros, do uso da camisinha, para evitar, além da gravidez indesejada, doenças sexualmente transmissíveis seculares, como a sífilis. Hoje, no mundo da Aids, a dificuldade perdura. Uma profissional do sexo tem, muitas vezes, maior facilidade em negociar com um freguês do que com um companheiro com o qual vive uma relação amorosa.

Trazemos, neste número, artigos interessantes sobre os temas do momento. Experiências exitosas, como é o caso das mulheres paranaenses que estão conseguindo reduzir o número de crianças infectadas no útero da mãe, com a detecção precoce do vírus HIV no início do pré-natal.

Pesquisas estão sendo feitas, e aqui falamos na “Academia na Calçada: uma bela parceria entre a Universidade e o Movimento Social”, que trata das profissionais do sexo e a Aids.

O Mapa da Assessoria Parlamentar do CFEMEA mostra que, apesar de ser em passo de tartaruga, alguma coisa andou no Congresso Nacional, nem sempre como queríamos e esperávamos, como é o caso da exclusão de emendas no Orçamento para 2002, de mais verbas para as Casas Abrigo.

Finalmente, trazemos para noss@s leitor@s, lições de vida, cidadania e direitos humanos, colocadas por mulheres, cidadãs po-sitHIVas, que de forma amorosa, mostram para tod@s cidadãs e cidadãos “ignorad@s” que a vida bem vivida vale à pena. É como a UNAIDS diz: “I care, and you?” (Eu me cuido, e você?).


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