Silvia Camurça
Socióloga e educadora da ONG feminista SOSCorpo

O tema das desigualdades está cada vez mais presente no discurso do Banco Mundial e aparece com nitidez no seu mais recente Relatório Sobre o Desenvolvimento Mundial 2000/2001, de sub-título “Luta contra a pobreza”. Nele a pobreza aparece como uma condição socialmente produzida, é compreendida, neste documento, não mais como algo externo às relações sociais mas como “resultado de processos econômicos, políticos e sociais...”.

O interessante para o feminismo é que tal elaboração nos permite incluir gênero como componente destes processos, ainda que este componente não apareça explicitamente. Um avanço em termos de discursos? Nem tanto.

Ao tratar dos fatores da pobreza o relatório afirma que o que mantém as pessoas na pobreza material são “escassez de bens, mercados inacessíveis e poucas oportunidades de emprego” (p. 1). Se aplicado ao caso das mulheres a superação das situações de pobreza estaria resolvida tão somente pela ampliação das políticas de igualdade de oportunidades, no mercado de consumo e de trabalho.

Sabemos quão falaciosa e ineficiente pode ser esta alternativa.

A questão das desigualdades e do desenvolvimento, para o feminismo passa necessariamente por transformações das estruturas que produzem tais desigualdades e reproduzem a pobreza, transformação para a qual políticas de igualdade de oportunidades são apenas uma entre muitas iniciativas. Para finalizar destaco uma importante novidade: a perspectiva liberal mantém-se prevalente como norte para a formulação de políticas embora amplie-se a perspectiva social dos problemas do desenvolvimento.


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