Quem passou perto da Esplanada dos Ministérios no dia 10 de agosto não pôde deixar de notar: vinte mil mulheres segurando margaridas e bandeiras não passam desapercebidas. A Marcha das Margaridas foi a primeira grande manifestação das trabalhadoras rurais do país e teve como promotoras a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), a CUT Nacional, o Movimento das Quebradeiras de Côco, o Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais – MMTR-NE, o Conselho Nacional de Seringueiros, a UBM – União Brasileira de Mulheres e o MLT – Movimento de Luta pela Terra, além do apoio de várias outras entidades.

"É muito importante que as mulheres estejam nas ruas, brigando pelo novo, o diferente. A Marcha das Margaridas foi uma ousadia na sensibilização da população em geral. Foi um arraso”, comemora Raimunda de Mascena, Coordenadora Nacional de Mulheres da Contag, organizadora da manifestação. As trabalhadoras rurais entregaram ao presidente da Câmara, Michel Temer, um documento com os projetos de lei considerados fundamentais para as trabalhadoras rurais. O próximo passo é o monitoramento constante desses projetos.

Foi um ano de planejamento, sensibilização e mobilização. Trabalho árduo para as coordenações municipais, regionais e estaduais da Contag. Palestras, seminários, debates e mesas redondas com as mulheres fizeram parte da preparação para a Marcha. “Foi um momento de impacto no País e no próprio movimento sindical”, avalia Raimunda. “Mesmo as mulheres que não vieram para Brasília, ficaram mobilizadas em suas regiões”, continua.

A luta das trabalhadoras rurais teve início na década de 80, com o processo de auto-organização das mulheres do campo em movimentos autônomos e mistos. As campanhas de sindicalização e documentação ampliaram em quase 70% a representação política dessas mulheres.

Na década de 90 foi constituída a Comissão Nacional de Mulheres Trabalhadoras Rurais da Contag e o debate sobre relações de gênero foi sendo incorporado em espaços historicamente masculinos, como os sindicatos. Em 95 iniciou-se a discussão sobre política de cotas e no 7º Congresso, em 98, foi aprovada a cota mínima de 30% de mulheres na Direção da Contag.

A mobilização das trabalhadoras rurais não parou com a Marcha das Margaridas. A batalha está longe de ser vencida. O estímulo para a organização das mulheres nos sindicatos deve ser constante. “Nem todas as coisas boas para os homens são boas para as mulheres. Nosso trabalho é invisível e nossos problemas ainda são do desconhecimento dos homens”, avisa Raimunda.

Levantamento realizado em 99, durante o Conselho Deliberativo da Contag, mostrou a baixíssima participação das mulheres nas direções e espaços de decisão do Movimento Sindical dos Trabalhadores Rurais (MSTR), mesmo com a determinação da cota mínima de 30%, enquanto princípio estatutário. O desinteresse das mulheres pela militância, o trabalho doméstico e os cuidados com os filhos, o medo de ser discriminada e rejeitada socialmente, a baixa auto-estima e a falta de uma política sindical que incorpore as necessidades das mulheres, são somente alguns dos motivos apontados.

Dentro dos próximos passos das margaridas estão a constante mobilização, o fortalecimento de uma rede de informações e solidariedade entre as trabalhadoras rurais e a negociação com o Congresso para acompanhamento dos projetos referentes à categoria.


...