Maria Estela Segatto Corrêa
Presidente da ONG "Elas por Elas na Política"

A criação da Organização Não-Governamental "Elas por Elas na Política", no dia 28 de agosto último, em São Paulo, representou um significativo avanço que transcende a luta por uma participação mais efetiva da mulher na política brasileira. Na verdade, ao estabelecer como objetivo a capacitação das mulheres para a disputa e o exercício de cargos eletivos, a entidade está, em última análise, contribuindo para o aprimoramento da prática política no país.

A participação da mulher na vida pública das grandes democracias do planeta‚ hoje, é inegável fator de desenvolvimento de sistemas sociais mais justos, capazes de incorporar de forma harmônica as diferenças de gênero e a diversidade cultural e étnica, presentes na maioria das sociedades modernas. O exercício da tolerância, a sensibilidade para entender as mais díspares visões de vida e a capacidade de dar abrigo às múltiplas tendências do comportamento humano, características comuns na maioria das mulheres, reservam a elas papel preponderante na transformação da política em instrumento a serviço da cidadania.

A experiência da participação política da mulher em todo o mundo tem demonstrado que ela transfere para a administração do bem público os valores políticos que orientam a sua atividade cotidiana, tanto profissional como no âmbito da família. Essas constatações, no entanto, não têm sido suficientes para que a mulher ocupe o espaço que lhe é devido na vida pública brasileira, tanto por falta de estímulo e preparo, como de conscientização acerca da necessidade de influir nos destinos da nação e no aprimoramento das nossas instituições.

Foram esses alguns dos fatores determinantes para que um grupo de mulheres profissionais, com atuação em diversos campos, identificadas com as questões de gênero, se reunisse ao longo deste ano para discutir o fortalecimento do papel da mulher no cenário político brasileiro. Inspiradas pela eficiente forma de atuação da "EMILY's List" - organização que capacita mulheres norte-americanas, do Partido Democrata, e apóia financeiramente suas candidaturas a cargos eletivos - e pela repercussão da campanha "Mulheres sem Medo do Poder", esse grupo empenhou-se na organização de uma entidade suprapartidária, auto-gerenciada, com o objetivo de capacitar a mulher para o ingresso na política.

A semente está plantada, já existe até o interesse pela criação de representações regionais da entidade, como em Curitiba. No entanto, o trabalho que nos aguarda é árduo. Temos que identificar, recrutar e treinar mulheres para a disputa de cargos eletivos; elaborar uma agenda básica de defesa das políticas públicas de gênero; organizar campanhas de mobilização pelo voto na mulher; e, em uma segunda etapa, captar recursos que viabilizem essas candidaturas.

A simples leitura das tarefas à nossa frente evidencia tratar-se de uma proposta ambiciosa. O entusiasmo que nos move, no entanto, haverá de ser suficiente para nos conduzir nessa jornada, permitindo-nos superar os obstáculos e começar a delinear os limites de um novo tempo, onde a mulher irá ocupar plenamente o seu espaço político e assumir seu papel de grande agente transformador na sociedade brasileira.


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