Jandira Queiroz
Jornalista e ativista pelos direitos sexuais e reprodutivos, atuante no movimento LGBT e no movimento feminista. Trabalha como assessora da Relatoria do Direito Humano à Saúde Sexual e Reprodutiva da Plataforma Dhesca Brasil e pesquisa religião, política e sexualidade na América Latina

Nos últimos meses, temos assistido, em estado choque e resistência, a uma sequência de golpes duros sendo desferidos contra o nosso sistema nacional de direitos humanos, em especial os direitos sexuais e reprodutivos.

Exemplos abundam desde a indicação do deputado Pastor Marco Feliciano à presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara (CDHM) pelo Partido Social Cristão (PSC). Crescem os casos de discriminação e violência baseados em raça, gênero e orientação sexual, enquanto o Partido Social Cristão (PSC), a Frente Parlamentar Evangélica e a Frente Parlamentar em Defesa da Vida (sic) avançam na ofensiva e apresentam um sem-fim de projetos que engessam avanços e retrocedem nos direitos já conquistados. Estatuto do Nascituro, “cura gay”, criminalização da “heterofobia”, igrejas propondo ações de constitucionalidade no STF, internação compulsória para dependentes químicos em comunidades terapêuticas evangélicas, e uma nova CPI do aborto são apenas alguns dos mais recentes.

A tomada da CDHM pelo PSC nos deixou perplexas. Entretanto, se nos afastarmos um pouco da observação local e nos localizarmos em um cenário mais amplo, pensando emum “movimento evangélico” que cresce não só no Brasil, mas nas Américas e demais continentes, esta movida não é de todo surpreendente.

Tome-se o debate acerca do Ato em Defesa do Casamento (DOMA, em inglês) e os ataques a clínicas de aborto nos EUA, além da proposta de lei em debate em Uganda - replicada no Zimbábue e Quênia - que determina pena de morte a homossexuais. Todos estes casos contam com a participação do Centro Americano para a Lei e a Justiça (American Center for Law and Justice - ACLJ), atualmente presidido pelo advogado constitucional Jay Sekulow, e dirigido por seu filho Jordan Sekulow.Para a implementação de sua agenda a nível mundial, já tem escritórios abertos no Zimbábue e no Quênia, dirigidos por cidadãos locais.

Segundo revela o Political Research Associates (PRA), a tática ensinada pela direita cristã norte-americana nesses países é manter a agenda cristã no centro do debate político, exportando-a de dentro das igrejas os espaços de poder.

Em março de 2012, Jordan Sekulow quis conversar com a presidente Dilma e pedir apoio brasileiro para a libertação do pastor cristão Yousef Nadharkani, no Irã, e para isso telefonou ao seu amigo Filipe Coelho, filho do pastor Silmar Coelho, por sua vez amigo próximo do pastor Everaldo Dias, presidente executivo do PSC. “Em 48h, o Jordan estava no gabinete do vice-presidente Michel Temer”, contou Filipe em uma entrevista a mim concedida.

Coelho revelou que os Sekulow (pai e filho) ficaram tão impressionados com “o poder dos evangélicos no Congresso brasileiro que decidiram ajudar o povo brasileiro e abrir um escritório aqui também”. O escritório foi montado em Goiânia, batizado de Centro Brasileiro para a Lei e a Justiça (BCLJ). Entre 26 e 30 de maio, o BCLJ promoveu o fórum “Um novo tempo de liberdade e justiça para todos”, em Campinas (SP) e Patrocínio (MG). “Todos”, neste caso, exclui uma enorme parcela da sociedade que não reza na mesma Bíblia da teologia da prosperidade e da indústria da fé que move o movimento evangélico.

Links

Sobre ACLJ
http://migre.me/emHkB (inglês)

Participação do ACLJ nos casos citados
http://migre.me/emHrC (inglês)

BCLJ/ACLJ no Brasil
http://migre.me/emM80

Political Research Associates
www.politicalresearch.org

Sobre o pastor Yousef Nadarkhani
http://migre.me/emJem

Lei anti-gays em Uganda
http://migre.me/emKB8


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