Priscilla Caroline Brito

Em 1992, cerca de 30 mil mulheres se reuniram no Rio de Janeiro no mesmo período da Eco92, para formular uma agenda de luta das mulheres por um planeta mais sustentável. Para a Rio+20, é preciso resgatar essa experiência, fazer um balanço dos nossos avanços e retrocessos.

Há 20 anos, as atividades começavam às 7h da manhã e só terminavam com o apagar das luzes da Cúpula da Terra. A noite era tomada por danças, música, vídeos e reuniões de articulação e discussão. Naquele pedaço do Rio de Janeiro, eram quase 100 mulheres se questionando: que tipo de relação com o planeta queremos construir?

O intuito do Planeta Fêmea era propor uma mudança para o mundo que corrigisse os danos causados pelo desequilíbrio da relação com o Planeta Terra. Era uma imensa vontade política de pensar uma transformação que não perpetuasse as exclusões da sociedade capitalista e que construísse uma ética baseada no respeito às diferenças.

Os painéis e debates apresentavam temas como biodiversidade, biotecnologia, alimentação, agricultura, reforma agrária, pobreza, refugiados, papel das redes para os movimentos de mulheres, saúde, educação, políticas de população, espiritualidade, sexualidade, dívida externa, militarismo, entre outros assuntos relacionados direta ou in-diretamente à temática de meio ambiente e desenvolvimento.

Passados 20 anos, esse esboço de projeto político de transformação enfrenta desafios ainda mais complexos para ser colocado em prática. O capitalismo vem se sofisticando para responder aos questionamentos sobre o seu modo de produção e o desgaste à natureza provocado por ele. A Economia Verde propagandeia que é possível ser mais sustentável e preservar o planeta sem provocar mudanças profundas no sistema econômico.

Para os movimentos sociais, contudo, a sustentabilidade do planeta depende não só de mudanças profundas no modo de produzir, mas também de uma redefinição das relações sociais, sobre bases mais justas, igualitárias e solidárias. Para os movimentos de

mulheres, especificamente, ainda estamos longe de construir isso. Para nós, a Rio+20 e a Cúpula dos Povos precisam ser questionadas. Há 20 anos reivindicávamos que os espaços de discussão sobre o futuro do nosso planeta precisavam ser plurais, pois a exclusão de mulheres, negr@s, indígenas e outros grupos tradicionalmente marginalizados dos espaços de poder só podia resultar em projetos e propostas tão ou mais excludentes e desiguais que aqueles colocados atualmente pela Economia Verde.

A articulação dos movimentos de mulheres para a Cúpula dos Povos na Rio+20 pretende questionar os tipos de projetos para o desenvolvimento do Brasil e dos outros países do mundo pela sua incapacidade de promover uma sustentabilidade ambiental que não seja também social, ou seja, capaz de superar as desigualdades.

Assim, nós mulheres iremos ao Rio de Janeiro, para ocupar o Aterro do Flamengo e, sobretudo, para mostrar que o mundo que queremos precisa preservar a vida do planeta em todas as suas dimensões, inclusive superando as desigualdades e as opressões atuais Assista ao vídeo Planeta Fêmea, para conhecer mais sobre a iniciativa: http://www.youtube.com/watch?v=m-Na3FwmG58


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