1° Encontro Nacional da Articulação Nacional de Mulheres Trabalhadoras Rurais - 1995

Desde a década de 1980, as trabalhadoras rurais vinham experimentando um crescente aprendizado pela participação em eventos do âmbito sindical, de associações, dos movimentos sociais e de partidos políticos. Aprenderam sobre organização política, exercício da fala pública, arte do debate, formulação de reivindicações e valor da comunicação para novos entendimentos a respeito de suas questões específicas. Deste processo, resultou a criação da Articulação Nacional de Mulheres Trabalhadoras Rurais, que teve seu primeiro encontro nacional em 1995.

O evento aconteceu entre os dias 19 e 24 de outubro de 1995, em Jundiaí (SP), com a participação de 51 mulheres, representando organizações de 18 estados de todas as regiões brasileiras. Estavam presentes organizações dos movimentos autônomos de trabalhadoras rurais de diversos estados, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Pastoral da Juventude Rural (PJR), Movimento dos Atingidos pelas Barragens (MAB), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Comissão Nacional de Mulheres Trabalhadoras Rurais da CUT (CNMTR) e alguns Sindicatos de Trabalhadores Rurais.

Com o tema “igualdade para as trabalhadoras rurais”, a metodologia foi pensada para permitir a troca de experiências e reflexões sobre conquistas e dificuldades, entendendo que as conquistas esbarravam em obstáculos como a falta de documentos e de escolaridade, as limitações das trabalhadoras em lidar com atividades do mundo público e a cultura sexista que desvaloriza o trabalho das mulheres na terra, limita sua participação nas decisões sobre comercialização dos produtos e perpetua a subordinação das mulheres rurais. Diante do entrave persistente da falta de documentação, dois anos depois deste encontro a ANMTR lançou a campanha Nenhuma Trabalhadora Rural Sem Documento (1997).

O Encontro resultou no consenso de que, para a construção de um projeto democrático popular, a abordagem das lutas de gênero e classe deve ser inseparável, cabendo às trabalhadoras rurais adotar esse binômio em suas linhas de ação. Elas compreenderam ainda o sentido estratégico de inserir o recorte de gênero nos debates internos da categoria para enfrentar os boicotes às mulheres nas ações desenvolvidas pelas organizações da classe, particularmente quando a trajetória da trabalhadora rural a conduz para instâncias de direção. Identificaram também que precisariam ampliar adesões em torno desta abordagem. Algumas temáticas foram destacadas como cruciais, como a luta por saúde e planejamento familiar e as questões relativas à sexualidade.