Primeiras ONGs do movimento feminista e de mulheres - 1980

O processo de abertura democrática e o rastro das mobilizações em torno da Década da Mulher impulsionaram o surgimento de grupos de mulheres em algumas capitais e grandes cidades brasileiras. Por outro lado, a década favoreceu a corrente de solidariedade internacional e de ajuda financeira, a partir do Hemisfério Norte, para projetos neste campo desenvolvidos por organizações do movimento e por outras entidades da sociedade civil, nos países onde a situação das mulheres era mais dramática.

A militância feminista e por direitos humanos no Brasil atraiu esses recursos através de lideranças que estavam mergulhadas no tema, pela história recente de luta contra a Ditadura e pelo engajamento no debate feminista contemporâneo que acontecia na Europa, nos Estados Unidos e em alguns países da América Latina, em particular o México, sede da Conferência Internacional da ONU de 1975.

Foi nesse contexto que nasceram as primeiras ONGs feministas brasileiras, formando uma vertente de institucionalização do movimento, com projetos financiados, principalmente, pela cooperação internacional europeia e norte-americana. As fundadoras eram, de modo geral, mulheres brancas, escolarizadas e conectadas com o mundo acadêmico e com os movimentos sociais - partidários, sindicais, estudantis, de comunidades de base e movimentos ligados à igreja progressista - com os quais estabeleciam parcerias. Destaca-se, entretanto, a fundação de Geledés – Instituto da Mulher Negra, e do GRUMIN – Grupo de Mulheres Indígenas.

Estas ONGs se dedicaram a projetos de educação popular, sensibilização, capacitação, comunicação política ou pesquisa nas áreas de violência doméstica e sexual, saúde sexual e reprodutiva, direitos humanos e participação política das mulheres. A perspectiva feminista estava na base da construção de suas metodologias, que valorizavam o empoderamento das mulheres, junto com a autorreflexão e formulação coletiva de propostas políticas. Foram caminhos desafiadores, que visibilizaram aspectos duros do cotidiano das mulheres no enfrentamento ao machismo e discriminação dentro de casa, nos partidos, nos sindicatos, nas comunidades, nos meios de comunicação e na política.

No percurso dessas ONGs, destaca-se a contribuição que deram para a formulação de demandas e de políticas públicas específicas. Denunciaram, logo de início, as sérias lacunas na assistência à saúde reprodutiva e a impunidade da violência doméstica e sexual. O leque temático de seu trabalho se ampliou para abarcar outras questões da vida das mulheres relativas a trabalho e renda, infraestrutura urbana, transporte etc.

As ONGs feministas brasileiras tiveram um papel importante no ciclo de conferências, encontros, seminários e outros eventos – locais, nacionais e internacionais - que marcaram a década de 1980, e que foram fundamentais para a conformação de redes e articulações feministas nesses diferentes níveis.

Primeiras ONGs do movimento feminista e de mulheres brasileiras