Pesquisas mostram: maioria das mulheres rechaça a masculinidade agressiva do presidente. Já não o veem como antissistema. Querem respostas concretas para a crise. Saúde e avanço da fome são suas principais preocupações. Serão decisivas em outubro. (Ilustração Thiago Fagundes/Agência Câmara)
Por Cfemea, na coluna Baderna Feminista
Há muitas chances que Bolsonaro realmente vá mal entre as mulheres nas eleições de 2022. Segundo a última pesquisa do Poder Data, feita entre 17 e 19 de julho, Lula se sai melhor entre mulheres (46%), jovens de 16 a 24 anos (52%) e os que ganham até 2 salários mínimos (50%). Bolsonaro, porém, mantém firme sua base de apoio: homens (43%), eleitores de 45 a 59 anos (43%) e os com renda de 2 a 5 salários (48%).
Muito se fala da polarização entre Lula e Bolsonaro, mas se explora menos as diferenças das percepções eleitorais de homens e mulheres.
Em maio deste ano, o Cfemea fez uma pesquisa qualitativa, realizamos com mulheres das classes BCD de todo o país. Em parceria com o Instituto Locomotiva, ouvimos três grupos focais, com mulheres de 18 anos ou mais [1]. Algumas disseram estar arrependidas do voto que deram a Bolsonaro em 2018 e, entre os motivos desse arrependimento, listaram o desrespeito dele com as mulheres e a falta de cuidado em relação à pandemia.
Priscila Brito, do Centro Feminista de Estudos e Assessoria – CFEMEA, aponta:
Nos grupos ouvidos, muitas que votaram em Bolsonaro em 2018 declararam estarem arrependidas. Afirmaram que votaram com a expectativa “do novo” e a ideia de que o país precisava de mudanças. Mas em 2022, o cenário é de dúvidas. Algumas se mostraram esperançosas com a possibilidade de o atual presidente deixar o poder, outras disseram se sentir frustradas pela falta de alternativa entre ele e Lula. Lula, aliás, foi lembrado como um presidente que fez muito pelo povo, apesar dos escândalos de corrupção.
Para elas, a performance de Bolsonaro é a de um machão. Ele expressa uma masculinidade agressiva, pugilística, que menospreza cuidados com a saúde e se serve de todo tipo de piadas machistas. Não é o único que age assim, ainda mais na política brasileira, onde a sub-representação das mulheres é gravíssima. No entanto, o presidente é o primeiro a deixar isso nítido como seu projeto de país totalmente fincado nessa perspectiva antigênero de submissão das mulheres ao patriarcado.
É uma contraposição clara à presidenta eleita antes dele, Dilma Rousseff e que sofreu impeachment. A primeira mulher a assumir a presidência também foi responsável por ampliar a representação das mulheres em cargos de comando e deu sequência a uma série de políticas implementadas desde os governos Lula, como a política nacional de enfrentamento à violência contra as mulheres, com impacto na vida das brasileiras.
Na pesquisa realizada pelo Cfemea, é possível ver frutos da discussão sobre a necessidade de termos mais mulheres na política, incentivada inclusive pela performance de Bolsonaro. E, por meio das candidaturas ao Legislativo, talvez seja a hora de avançar: queremos ver mulheres comprometidas com a democracia, atentas às questões mais urgentes da vida cotidiana e realmente dispostas a mudar a vida das mulheres. Queremos ver mulheres mais diversas no poder, capazes de expressar as diferentes preocupações, amplificar as vozes, enfrentar as desigualdades de gênero, raça, etnia e classe que nos separam, construir alternativas, resistências e democratizar o poder com a participação popular.
As mulheres brasileiras sabem que o fascismo não lhes interessa, muito menos um governo que não se compromete com a vida da população. Diferente dos homens, que priorizam um debate político mais abstrato, com relevância para temas como a corrupção, as mulheres querem políticas mais concretas. Segundo pesquisa realizada pelo Datafolha em março deste ano, as mulheres consideram que os principais problemas do Brasil hoje são questões como saúde e fome, enquanto para os homens é a corrupção e o aumento dos preços dos combustíveis.
Queremos respostas para a crise econômica que vão além de responsabilizar a pandemia pelos problemas colocados. Queremos que todas as mulheres tenham uma vida digna. Queremos um presidente melhor e mais mulheres – negras, indígenas, LGBTI+, trabalhadoras, periféricas, com deficiência – na política, queremos soberania popular.
[1] A pesquisa é parte de uma iniciativa eleitoral, que conta com o apoio de diversas organizações da sociedade civil e movimentos nacionais. Publicamos um primeiro artigo na Revista Gênero e Número com os principais achados da pesquisa. https://www.generonumero.media/voto-mulheres-eleicoes2022/
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