Quase lá: Mulheres extrativistas garantem autonomia e defesa do meio ambiente com produção de polpas de frutas e mel no Maranhão

Atividade coletiva da comunidade Solta, no sul do estado, se tornou exemplo de economia sustentável e agroecológica

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Primeira mulher presidente da Associação, Daniela Bezerra comemora a autonomia das extrativistas e a fase de reforma, que vai garantir a certificação e ampliação da produção - Mariana Castro
É uma renda não só para as mulheres associadas, mas para toda a comunidade

 

A cidade de Carolina, no sul do Maranhão, está localizada no coração da Chapada das Mesas e rodeada de um complexo de mais de 100 cachoeiras.

E em meio ao Cerrado, um dos biomas mais ameaçados do país, mulheres extrativistas se organizam por meio da Associação Bezerra de Moraes e se destacam na produção de polpas de frutas e mel, frente aos projetos de monocultura. Atuam em defesa da preservação da biodiversidade e da vida no campo.

“Essas mulheres aprenderam o papel delas, a importância delas dentro da associação, dentro da comunidade. A associação hoje gera renda direta e indiretamente, não só para as mulheres associadas, mas para toda a comunidade, porque são 14 sócios, 14 famílias diretamente beneficiadas, que a gente trabalha com a produção de polpas e mel”, explica Daniela Bezerra, presidenta da Associação Bezerra de Moraes (ABM).

Daniela explica que a Comunidade Solta é composta por cerca de 40 famílias e todas elas se destacam por garantirem quintais com animais de pequeno porte como porcos e galinhas, além de uma grande diversidade de frutas do Cerrado, que fortalecem ainda mais o potencial da associação.

“Hoje a população, a comunidade inteira se beneficia, porque a gente trabalha muito com a compra de frutas dos quintais produtivos, então a gente compra acerola, goiaba, cajá, juçara, a gente compra abacaxi, araçá... É uma renda não só para as associadas, mas para toda a comunidade, porque eles podem garantir um salário, eles têm uma renda garantida”, afirma. 

Primeira mulher presidente da associação, Daniela Bezerra comemora a autonomia das associadas e a fase de reforma, que vai garantir a certificação e ampliação do escoamento da produção. "A única opção que você tem é ser forte, é lutar, é ir atrás, é buscar, mesmo que você ache que não vai dar certo, e às vezes dá certo, tem dado certo”, diz. 

“A gente conseguiu construir a sede da associação, a gente conseguiu equipamentos da associação com projetos e ano passado a gente concluiu um projeto de implantação de sistema solar que foi uma conquista enorme para a gente e estamos finalizando uma câmara fria, porque a gente tem muito recurso, tem muito de onde comprar, mas não tinha onde armazenar”, complementa Daniela. 

 A produtora conta que as mulheres extrativistas entregam polpa para a merenda escolar, o que também é considerado por elas uma conquista.“É uma fonte de renda e a adequação é o carro chefe que a gente precisa para poder estar expandindo a nossa produção, porque temos capacidade para produzir, para armazenar e precisamos escoar essa produção”.

 Mãe de Daniela e uma das mais antigas associadas, aos 63 anos, Alzerina da Silva se orgulha da vida de extrativista sustentável.“Meu Deus! Isso aqui para mim é tudo, eu nunca quero ir para a cidade, sempre gostei de ficar aqui, nasci aqui. Passei um tempo fora, mas meu objetivo é continuar aqui, eu trabalho com roça, com tudo”, ressalta. 

“Eu roço de roçadeira, eu capino de enxada, tudo isso, eu não tenho negócio de me enrolar com pouca coisa não”, acrescenta a associada. 

A partir da relação com a terra e especialmente com as abelhas, a comunidade desenvolve também um papel fundamental na preservação do Cerrado e na conscientização dos impactos de agrotóxicos.

“Termina que prejudica a gente, eu mesma tenho preocupação com o veneno, com o desmatamento, porque o que a gente quer é preservar. Aquilo que a gente pode estar plantando também... Aqui no meu quintal, tinha muito pé de cajá lá no mato, já trouxe e tenho no meu quintal, então é a gente ir plantando, orientando as pessoas, cuidando dos rios, do lixo”, relata Alzerina. 

Com a Casa de Mel consolidada pela associação, as mulheres têm se desafiado a manter seus próprios apiários nos quintais.

“Fiz o manejo e agora eu tenho Tiúba, Uruçu, Manoel de Abreu, Amerim Plebeia e tenho a, é marmelada, uns chamam marmelada outros chamam essa Manoel de Abreu e tenho a Moça Branca, que dá um mel muito bom, ela é uma abelha que produz muito mel”, conta.

Orgulho da comunidade, por onde se anda são avistadas abelhas, que vivem livremente pela região e ajudam na polinização e produção dos frutos, graças à sabedoria popular de mulheres como Alzerina.

“Olha que bonito o trabalho que elas fazem! Aqui ela enche de mel, eu só coloco uma cera alveolada e elas fazem esse trabalho aqui. Porque se não colocar, elas vão fazer primeiro essa parede aqui todinha, para depois fazer os favos, mas a gente colocando para ela, já facilita o trabalho delas, né?”.

Edição: Douglas Matos

 
 

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