Esta semana está acontecendo o intercâmbio de experiências entre defensoras de direitos humanos brasileiras e africanas promovido no âmbito do Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos (CBDDH).
A delegação brasileira conta com cinco organizações Criola, Grupo Conexão G de Cidadania LGBT de Favelas, Cfemea, Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e Terra de Direitos.
A agenda de trocas de experiências foi construída em parceria com a organização African Initiative of Women Human Rights Defenders (Iniciativa Africana de Mulheres Defensoras de Direitos Humanos) da África do Sul. E conta com reuniões entre as organizações dos países, com representantes das Nações Unidas, visitas a territórios, participação na 7° Conferência Sul Africana de Direitos Humanos e na Convenção das Defensoras dos Direitos Humanos das Mulheres Africanas de 2024.
A delegação acompanhou ainda a visita da relatora das Nações Unidas para Defensoras e Defensores de Direitos Humanos, Mary Lawlor, que esteve no país para escutas dos movimentos dessa região. A representante da ONU também esteve no Brasil este ano e realizou reuniões com a participação do Comitê.
Assim como ocorreu no Brasil, a reunião com a relatora foi marcada por relatos de violências sistêmicas contra as/es defensoras/es, perseguições, ameaças e assassinatos. A ausência de investigações sérias e a falta de compromisso das instituições governamentais em responsabilizar os violadores, além do próprio papel do mesmo poder público nas violações em diversos territórios estão presentes tanto no Brasil quanto na África do Sul.
Os relatos sul-africanos registraram ainda a violência policial no contexto da luta por território urbano, assim como no rural devido às tentativas de apropriação desses territórios para interesses privados. Diversos defensores e defensoras relataram a necessidade de se afastar de seus territórios diante das inúmeras tentativas de assassinato.
Também foi abordada as especificidades do contexto de violência contra mulheres defensoras de direitos humanos e o impacto disso nas comunidades. Assim como no Brasil, os ataques às defensoras de direitos humanos, principalmente negras, indígenas, LBTQIA+ e com deficiência, ocorrem de forma diferenciada, agravadas pelo machismo, pelo racismo, pela LBTQIA+fobia e pelo capacitismo. As mulheres que estão em luta na África do Sul relatam a ausência de cuidados e proteção, a intensa vivência com o medo constante por suas vidas e pela vida dos familiares.
A delegação brasileira de intercâmbio acompanhou ainda a escuta em um território de ocupação urbana, onde a maioria das pessoas acampadas são mulheres. Elas vivem em situação de privação junto com suas famílias, sofrem violências cotidianamente e já tiveram três lideranças assassinadas.