Velhotas feministas, uma presença nos atos contra o fascismo

Por Sonia Malheiros Miguel

 

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Sonia GarotaVelhota

Fotos: Louise Akemi (esq.) e Sônia Malheiros Miguel (dir.)

 

Numa eleição em que a propaganda eleitoral gratuita parece perder espaço como definidora de votos - vide o candidato do PSDB, que segue mal nas pesquisas mesmo tendo mais tempo de rádio e TV do que todas as outras candidaturas juntas - as mulheres demonstraram mais uma vez sua capacidade, utilizando de maneira potente o poder de convocação das mídias sociais. Numa eleição em que a propaganda eleitoral gratuita parece perder espaço como definidora de votos - vide o candidato do PSDB, que segue mal nas pesquisas mesmo tendo mais tempo de rádio e TV do que todas as outras candidaturas juntas - as mulheres demonstraram mais uma vez sua capacidade, utilizando de maneira potente o poder de convocação das mídias sociais. 

Nós mulheres nos colocamos como protagonistas do processo, recusando o lugar de coadjuvante que muitos ainda tentam nos impor, ao transportar para as ruas, indo além do ativismo de sofá, o fenômeno do grupo do Facebook “Mulheres Unidas contra Bolsonaro”, com quase quatro milhões de integrantes. Reunimos milhões de pessoas nas manifestações #EleNão que aconteceram em mais de 400 cidades brasileiras e em mais de uma dezena de cidades no exterior, em mais de 30 países, entre eles Estados Unidos, Canadá, Argentina, Chile, Espanha, França, Portugal, Alemanha, Itália, Suíça e Noruega.

Um lindo ato unitário, que reuniu manifestantes de diferentes partidos, organizações dos movimentos sociais dos mais variados seguimentos, para além das multidões que saíram de suas casas para demonstrar que rechaçam de forma veemente e contundente, entre outras, as posturas machistas, racistas, homolesbotransfóbicas e armamentistas defendidas por Jair Bolsonaro.

Uma provocação que fiz, ao produzir uma camiseta para participar da manifestação aqui em Brasília com a frase “Lute como uma velhota feminista”, que dialogava com outras duas lindas frases que tem circulado faz algum tempo - “Lute como uma garota” e “Lute como uma mulher” -, me divertiu e fez pensar sobre a invisibilidade e sobre o quanto ainda negamos o avanço da idade, o quanto ainda recusamos e nos envergonhamos de nossa velhice, como se dela pudéssemos escapar. Chamamos de meninota aquelas que recém saíram da infância, dai “velhota” para nos referirmos àquelas que, como eu, recém entraram na velhice. 

As reações começaram quando postei no Facebook a imagem da camiseta. Muitas pessoas querendo saber onde comprar e como eu tinha conseguido. De uma maneira geral, as amigas e amigos que tenho no Facebook – a minha bolha – receberam a frase impressa com surpresa, bom humor e interesse. 

E as reações continuaram na manifestação do dia 29. Muitas pessoas pediram para tirar foto da camiseta, outras para tirar uma foto junto comigo. O estranhamento era evidente. Algumas com alegria, outras admiradas por eu ter me colocado nesse lugar diziam gentilmente – mas isso não condiz com você...ou - essa frase não corresponde à realidade... – numa recusa delicada que negava esse lugar para mim e para elas, seja agora ou seja no futuro. Ao que eu replicava também com humor: - corresponde sim, estamos aqui e seguimos juntas. 

Estamos aqui. Existimos e resistimos, nós as velhotas que estamos chegando agora nessa etapa da vida e também as mulheres bem mais velhas. Como diz uma linda frase disseminada pelo movimento de mulheres negras “nossos passos vem de longe”, e reconhecer isso é reconhecer também as mulheres mais velhas e as mulheres longevas que seguem na luta e na resistência feminista.

Outra forma de negação foi a frase que também escutei, de diferentes formas, - o que importa é a juventude de espírito... - Ser jovem não depende da idade... Como se recusando esse lugar, magicamente sairíamos dele. Ao mesmo tempo era lindo vermos, entre as manifestantes de Brasília, centenas de mulheres chegando a ele ou com mais de sessenta anos. O que ficou evidente é que desconstruir visões que só valorizam a “eterna juventude” segue sendo um desafio do feminismo.

Mas, voltando ao ato e às eleições, nos chama a atenção que a fundamental e necessária recusa à candidatura de Bolsonaro, tão evidente no gigantesco ato do dia 29 de setembro, não repercuta na mesma proporção contra aqueles candidatos e candidatas que defendem as mesmas posições machistas, racistas, homolesbotransfóbicas, armamentistas, privatistas que o candidato à presidência pelo Partido Social Liberal.

Seus seguidores, sejam eles familiares ou políticos - não só do PSL - não tem a mesma rejeição e muitos deles devem se eleger ou reeleger, reforçando a bancada BBB (bala, bíblia e boi) que tradicionalmente se posiciona contra os direitos conquistados na Constituição de 1988. Essa bancada apoiou o golpe e seus desdobramentos, votando a favor da PEC que congelou os gastos com saúde e educação por 20 anos, da reforma trabalhista que retirou direitos; e tem apoiado o desmonte de uma série de políticas desenvolvidas nos governos do PT que incidiam para a redução das desigualdades.

Com seu registro definitivo aprovado pelo TSE em 1998, o PSL tem entre seus compromissos programáticos o “combate à censura, ao constrangimento e aos desequilíbrios morais e sociais decorrentes do discurso ‘politicamente correto’”; o “combate à apologia da ideologia de gênero”; “o combate aos privilégios decorrentes de ‘quotas’ que resultem na divisão do povo, seja em função de gênero, opção sexual, cor, raça, credo”. Posições que estão plenamente representadas nas visões do candidato escolhido para a disputa presidencial. Atualmente, o PSL tem oito deputados federais na sua bancada, entre eles Jair Bolsonaro e seu filho Eduardo Bolsonaro, dois delegados e um major.

Por tudo isso, temos que continuar a lutando contra Ele e contra todos eles (e elas) que tenham a mesma visão de mundo racista, sexista, classista e discriminatória. Não eleger Bolsonaro como presidente e não eleger também seus correligionários, aqueles e aquelas que pensam como ele para o Senado, para a Câmara Federal, para os governos estaduais, para as Assembleias Legislativas e Câmara Distrital, este é o desafio do próximo domingo. 

#EleNão! #OsFilhosDeleTambémNão! #OsApoidoresDeSuasIdeiasNunca!

 

 

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