Novas alianças: desafios constantes - 2001

A agenda do CFEMEA se diversificou --com níveis diversos de dedicação - para além das questões das trabalhadoras, do acesso ao poder, da violência, da saúde e dos direitos reprodutivos. O movimento de mulheres vinha se segmentando em torno destas e de outras bandeiras, como a questão racial e a pauta das mulheres lésbicas. Ao mesmo tempo, crescia a agenda de direitos humanos e HIV/Aids. O grau de prioridade conferido às temáticas era parte das decisões estratégicas da instituição em cada contexto, mas correspondia também à frequência de demandas recebidas: de parlamentares buscando assessoria na avaliação das propostas legislativas, de segmentos do poder executivo ou dos próprios movimentos organizados.

“O que o CFEMEA fazia era analisar os projetos de lei e seu efeito sobre a vida das mulheres. Com isto a gente se aproximava das organizações de HIV/Aids, por exemplo, e foi assim que a gente se aproximou mais das mulheres lésbicas e, em fase posterior, do movimento LGBT, que aprendeu com a nossa metodologia”. (Elizabeth Saar)

O CFEMEA entrou nos espaços de debate sobre HIV/Aids por demanda da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, que abrigava o primeiro Centro de Referência para este atendimento. A contribuição levou a este espaço a perspectiva das mulheres:

“Não devemos esquecer que as mulheres vinham sendo excluídas [das políticas de HIV/Aids], e não se fazia uma leitura mais apurada sobre comportamento sexual. A entrada do CFEMEA nessa temática foi um movimento de mão dupla”. (Schuma Schumaher)

Da mesma forma, o CFEMEA recebeu convite para realizar uma oficina na Comissão de Direitos Humanos da OAB, o que foi a pedra de toque para a maior aproximação com o movimento de direitos humanos. Essas novas conexões contribuíam para mudanças como o fortalecimento da vocalização das mulheres lésbicas frente ao movimento LGBT e o maior interesse das redes feministas no debate dessas questões.

Com relação à questão racial, o envolvimento foi de outra ordem. Pouco antes da 3ª Conferência Mundial Contra o Racismo, em 2001, por iniciativa da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB) e do Observatório da Cidadania (Social Watch-Brasil), foram iniciadas discussões sobre racismo, com o entendimento de que era preciso estabelecer bases de confiança para atuar em conjunto. Neste momento, o CFEMEA assumiu a luta contra o racismo como questão central e estruturante de sua ação política.

“Ser uma organização feminista antirracista demandou muita elaboração política e ideológica. Foi diferente da agenda sobre a questão do HIV, com cujas organizações a gente estabeleceu uma relação de parceria. Na questão do racismo, a gente estabeleceu uma identidade e, a partir daí, uma relação com o movimento de mulheres negras muito mais forte”. (Guacira Cesar de Oliveira)

Guacira ressalta o quanto essas decisões estratégicas não se dão sem conflitos:

“Há um equilíbrio muito delicado no trabalho do CFEMEA, que é fazer parte do movimento feminista e entendê-lo como uma unidade, sabendo que há diversidades e conflitos internos, e, ao mesmo tempo, ser uma organização de portas abertas para essa diversidade”. (Guacira Cesar de Oliveira)