SEGUNDA ONDA FEMINISTA - 1979

A Segunda Onda Feminista é o ressurgimento de movimentos das mulheres brasileiras na luta por direitos de cidadania quando o Brasil fazia sua transição democrática do final dos anos 1970. Esta movimentação é herdeira da Primeira Onda Feminista, cujo cenário foi o final do século 19 e as primeiras décadas do século 20, com as Sufragistas lutando pelo direito das mulheres de votar e serem votadas - conquistado em 1932 - e também pelo direito de acesso à universidade. Nas grandes capitais circulavam, desde o final do século 19, jornais e revistas editados por intelectuais que traduziam esses ideais de libertação, avançados para a época. Por outro lado, mulheres trabalhadoras atuaram nos movimentos anarquista e comunista do início do século 20, introduzindo discussões sobre as condições de trabalho e de vida das mulheres, em particular as operárias, que cumpriam extensas jornadas e sofriam assédio de seus chefes ou patrões.

Entre as duas ondas feministas o Brasil viveu o Estado Novo (1937-1945) - que interrompeu a realização de eleições e colocou na ilegalidade partidos de esquerda - e o Golpe Militar de 1964. Um intervalo de grande efervescência política, no qual se formou o caldo de mobilização que delineou a Segunda Onda Feminista. O mundo vivia a Guerra Fria, período de disputa entre os Estados Unidos (Capitalismo) e a União Soviética (Comunismo). No Brasil, sob a zona de influência norte-americana, desenvolveu-se uma política populista e de intervencionismo do Estado. Já na sociedade, cresceu a onda de protestos no campo político-partidário, no movimento sindical, no movimento pela reforma agrária, no movimento estudantil, nos movimentos da juventude católica universitária, operária e agrária e nos movimentos de associações de moradores.

Mulheres estiveram presentes em todas essas lutas. Trabalhadoras domésticas, articuladas com o movimento sindical e assessoradas pela igreja católica, lutaram e conquistaram, ainda na Ditadura, o direito à carteira de trabalho assinada. Foram mulheres as principais líderes do Movimento Contra a Carestia da Vida, importante organizador de massas urbanas. Quando o tensionamento político desembocou no Golpe Militar, as mulheres marcaram presença nas guerrilhas urbana e rural, para além da resistência nos núcleos comunitários, urbanos e rurais. As mulheres impulsionaram o Movimento do Custo de Vida e fortaleceram os Clubes de Mães e Associações de Moradores. Em 1963, na cidade de São Paulo, foi criado o Serviço de Orientação à Família/ SOF, organização que mais tarde se reconstituiu como ONG do movimento de mulheres, a Sempreviva Organização Feminista.

Na transição democrática, as feministas foram líderes importantes na campanha pelas Diretas Já e fundaram o Movimento Feminino pela Anistia. No meio urbano, mulheres – em especial as mais jovens – acompanharam a onda de liberação que veio com a revolução sexual, tendo a disseminação da pílula anticoncepcional como mote para esta liberação. Já nos anos de 1970, a escritora Rose Marie Muraro publicou “A Libertação Sexual da Mulher”, livro que simboliza esta vanguarda.

Outro marco desse período foi a 1ª Conferência Mundial sobre a Mulher da ONU, que aconteceu em 1975 (entre 19 de junho e 02 de julho), instituindo o início da Década da Mulher. Este processo estimulou a criação de grupos feministas em vários países. Paralelamente à 1ª Conferência Mundial, no Rio de Janeiro foi organizado o seminário “O Papel e o Comportamento da Mulher na Realidade Brasileira”, na Associação Brasileira de Imprensa (ABI).

Grupos de mulheres pipocaram nos grandes centros urbanos, potencializados e alimentados pelas ideias feministas trazidas pelas brasileiras anistiadas que retornaram ao país e se engajaram nas lutas políticas - seja nas universidades, nos partidos políticos, no mundo das letras e das artes, organizando grupos autônomos de reflexão ou promovendo trabalho educativo junto às mulheres nos sindicatos e grupos organizados nos bairros populares.

Os grupos autônomos desenvolveram reflexões sobre sexualidade, saúde, anticoncepção, maternidade, violência contra as mulheres, aborto e questões relativas à condição de subordinação das mulheres. Jornais feministas ressurgiram nas grandes capitais e do meio acadêmico emergiram núcleos de estudos e pesquisas sobre as mulheres em diversas áreas das ciências humanas e sociais, alimentando o trabalho das primeiras ONGs feministas.